Gabriela Néspoli/Opera Mundi
Cidade francesa tem boas opções para degustar vinhos e pedalar
Na região do município de Bordeaux, no sudoeste da França, o sonho de fazer um passeio de bicicleta por estradinhas do interior, avistando vinícolas e paisagens naturais surpreendentes se torna realidade. Diversas ciclovias cortam o solo plano e fértil da Gironda, departamento do qual a cidade de Bordeaux é a capital, e revelam outras surpresas que vão além dos vinhos de alta qualidade conhecidos pelo mundo, produzidos principalmente no vilarejo medieval de Saint Émilion.
Existem opções de passeio para todas as disposições na região, sejam elas correspondentes a cinco, dez ou sessenta quilômetros. Isto pois Bordeaux está cercada de planícies que não exigem grande preparo físico para serem exploradas. Boa parte das ciclovias que partem da cidade é asfaltada e bem conservada – um convite tanto para turistas de aventura quanto para aqueles que só desejam dar uma pedalada sem compromisso.
O ideal é chegar a Bordeaux (ou Bordéus, na adaptação para o português) de trem ou avião, e de lá começar os passeios. Reserve ao menos um ou dois dias para conhecer a cidade. A área em torno das praças Saint Pierre e do Parlamento é repleta de restaurantes e boutiques, nas quais encontram-se os mais variados vinhos franceses e europeus. Caso queira experimentar a culinária regional, vá ao Chez Ploucs (10, Rue des Faussets), que oferece uma deliciosa “formule” (entrada, prato principal e sobremesa) a preços acessíveis, mesmo no jantar.
Uma vez no município, é possível alugar bicicletas e todos os equipamentos de segurança na Pierre qui Roule (32, Place Gambetta), onde os vendedores atenciosos costumam dar indicações sobre o nível de dificuldade e o estado dos trajetos a serem percorridos. O aluguel diário de uma bicicleta comum, com capacete e bagageiro, fica por volta de 6 euros. No entanto, é bom fazer a reserva com antecedência, pois as bicicletas costumam acabar ao longo do dia.
Trajetos
Com tantas opções de ciclovias, o grande desafio é decidir para onde seguir. Você poderá optar tanto pela exploração da costa do Atlântico, conhecendo a bela Bacia do Arcachon (situada a cerca de 70 quilômetros a leste de Bordeaux), quanto pelo sentido contrário, rumo ao interior, pedalando por bosques e vinícolas até o vilarejo medieval de Saint Émilion.
Para chegar até o vilarejo, existem algumas possibilidades de trajetos. A pista Rogér Lapébie, asfaltada e em ótimo estado, é hoje reservada somente para bicicletas e ocupa o espaço de uma linha de trem desativada. Por esta razão, ela corta diversas cidadezinhas, como Latresne e Créon, e antigas estações de trem, hoje transformadas em cafés e restaurantes. A surpresa do caminho é a abadia de La Sauve Majeure, construída no século XII no alto de uma colina próxima à cidade de Créon, declarada patrimônio universal pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).
Gabriela Néspoli/Opera Mundi
Ciclovias que saem de Bordeaux levam a várias cidades, muitas com construções medievais
A Rogér Lapébie conecta a cidade de Bordeaux à vila de Sauveterre-de-Guyenne, ao longo de 54 quilômetros. Chegando ao vilarejo, o ciclista ainda tem de pedalar mais 30 quilômetros por uma rodovia comum (a D670), na qual também circulam veículos, para chegar até Saint Émilion. Assim, uma boa opção é pernoitar na cidadezinha de Saint Brice, vizinha à Sauveterre, e continuar a viagem no dia seguinte com fôlego renovado. Em Brice, em meio a vastos campos, desponta a Hostellerie do Château Semens, um hotel-restaurante acolhedor localizado num antigo castelo que data do século XIII.
Saint Émilion
Em Saint Émilion, deixe-se maravilhar pela vinicultura que marca a trajetória do vilarejo medieval. Existem mais de 860 fabricantes de vinho instalados nos arredores da cidade, produzindo variedades que figuram na lista das mais prestigiadas do mundo, como a Château Cheval Blanc ou a Angelus. Tamanha qualidade é atribuída à combinação entre o solo calcário e o clima ameno da região, considerado ideal para a plantação de uvas do tipo Malbec, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon e Merlot, sendo a última a variedade predominante. A mistura destas espécies é outra característica dos vinhos da jurisdição de Saint Émilion, declarada em 1999 Patrimônio Universal pela Unesco.
NULL
NULL
Se estiver interessado em saber mais sobre a manufatura de vinhos, além de degustar uma boa taça da bebida, visite uma cave subterrânea ou um “château” – denominação reservada às viniculturas que reúnem no mesmo local o cultivo das uvas e a produção do vinho. A lista com as mais de cem produções abertas ao público, assim como os valores e horários das visitas, pode ser obtida no escritório de turismo da cidade, situado ao lado da Igreja Monolítica, monumento mais antigo de Saint Émilion. A Monolítica, assim como as demais construções e ruas do vilarejo, é totalmente esculpida em rocha calcária, extraída do próprio solo da região.
Outros monumentos e vestígios da época romana também estão distribuídos pela cidade, como parte das muralhas e dos grandes portões que costumavam dar acesso ao vilarejo. É possível conhecê-los percorrendo toda a extensão da cidade a pé em pouco mais de uma hora.
Além de nos encantar pela história, pela arquitetura medieval e pela vinicultura, o vilarejo ainda se revela um polo gastronômico regional. Saint Émilion reivindica a criação de um dos doces mais famosos da França: o macaron, espécie de biscoito fabricado à base de amêndoas. Todavia, sua receita, elaborada no ano 1620 pelo convento das irmãs Ursulinas, se diferencia bastante dos “tradicionais” macarons coloridos e aromatizados comercializados por todo o mundo. Em Saint Émilion, o biscoito é mais macio, plano e tem sabor de amêndoas.
Gabriela Néspoli/Opera Mundi
Caso o repouso de alguns dias e a viagem de sabores proporcionada por Saint Émilion não forem suficientes para te animar a voltar de bicicleta à Bordeaux, considere a opção do trem que faz a ligação entre as duas cidades diariamente.
O ponto alto de encarar uma viagem de bicicleta pela região de Bordeaux é a oportunidade de passar por praias, lagos, dunas e florestas: a diversidade natural na Gironda surpreende, nos fazendo esquecer por alguns momentos que estamos no coração da Europa.