No fim do terceiro dia da segunda rodada de negociação de paz em Genebra, a coalizão de oposição síria apresentou um documento de 22 pontos com sua proposta sobre como deve ser a transição política para pôr fim à guerra civil no país que já dura três anos.
O documento obtido pela agência Reuters sugere a formação de um governo de transição cujo papel seria supervisionar o cessar-fogo total entre Exército e oposição, trégua que seria monitorada pela ONU (Organização das Nações Unidas). O corpo executivo provisório também teria prerrogativa para libertar prisioneiros, dar início a um processo de justiça de transição e decretar anistia geral, além de afugentar os mercenários estrangeiros empregados por ambos os lados do conflito.
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Agência Efe
Guerra civil na Síria dura 3 anos; em Genebra, representantes do governo e oposição tentam chegar a consenso para resolução do conflito
“Apresentamos nosso principal documento, um plano detalhado e de princípios para guiar a transição”, sob a direção de um órgão de governo transitório “que deve ser formado por consenso mútuo”, anunciou o porta-voz da oposição, Louay Safi.
As diretrizes — que não fazem menção ao futuro do atual presidente, Bashar al Assad — foram apresentadas nesta quarta-feira (12/02) ao mediador das conversas de Genebra II, o diplomata Lakhdar Brahimi, designado pela ONU e pela Liga Árabe.
“O governo de transição vai preparar e supervisionar um cessar-fogo total, tomando medidas imediatas para interromper a violência, proteger a população civil e estabilizar o país diante da presença de observadores internacionais da ONU”, assinala o documento de cinco páginas, de acordo com a Reuters. A proposta ainda não recebeu respostas por parte da delegação governamental.
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Negociações paralelas rejeitadas
Também hoje, ambas as delegações do governo e da oposição sírias rejeitaram a estratégia de negociar temas em paralelo. Ontem, o mediador Brahimi havia proposto que os representantes sírios debatessem, já que não há consenso nem quanto à agenda, os dois principais temas separadamente: fim da violência (prioridade do governo) e formação de governo de transição (pauta da oposição).
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“O que eu posso fazer?”, disse, diante do impasse, Lakhdar Brahimi, mediador do conflito designado pela ONU e Liga Árabe
“Não é lógico porque não podemos discutir sobre terrorismo e o órgão de Governo transitório ao mesmo tempo”, disse Buzaina Shabaan, conselheira de Assad.
“Não queremos fazer acordos por passos, queremos um acordo final e completo que só conseguiremos se estivermos de acordo em tudo”, afirmou Anas Abdah, representante da delegação opositora, ao fim do dia de negociação em Genebra.
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Reunião Rússia, EUA e ONU antecipada
Ainda hoje, Rússia, Estados Unidos e a ONU anunciaram que vão antecipar a reunião trilateral que haviam inicialmente planejado para sexta-feira. O encontro foi adiantado para amanhã (13/02) diante das evidências de que as negociações de paz na Síria seguem estagnadas e necessitam de um forte impulso político.
A ONU confirmou que os “número dois” da diplomacia russa, Gennady Gatilov, e norte-americana, Wendy Sherman, se reunirão amanhã em Genebra com o mediador internacional Lakhdar Brahimi.
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Na foto, o vice-ministro das Relações Exteriores russo, Guennadi Gatillov; reunião trilateral entre Rússia, EUA e ONU foi antecipada
Crise em Homs
Distante das negociações na Suíça, foi retomada hoje na cidade de Homs, no centro da Síria, a operação de evacuação de civis e entrada de ajuda humanitária. As ações haviam sido suspensas após um comboio ter sido atacado ao tentar entrar no distrito sírio.
De acordo com dados da Unicef, um total de 1.151 civis, dos quais 500 eram crianças, saíram entre sexta-feira e segunda-feira da parte antiga de Homs, cercada pelo Exército sírio desde junho de 2012. O governo e os rebeldes concordaram em prorrogar por três dias a trégua humanitária, que inicialmente estava prevista para durar de sexta-feira a domingo, para permitir a evacuação de mulheres, menores e idosos.
* Com informações da Agência Efe