O presidente do governo espanhol Mariano Rajoy é famoso pelo seu estilo de política (ou não-política) de calar-se em momentos de crise. Foi desta maneira que ele reagiu às denúncias de caixa dois dentro do seu partido quando o ex-tesoureiro do PP, Luis Barcenas, filtrou uma contabilidade oculta que mostrava doações ilegais de grandes empresários e salários extraoficiais de líderes da organização política.
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Enquanto os catalães aparecem diariamente falando sobre o processo separatista, Rajoy (foto) se cala e deixa ministros responderem
Em certo momento, entre as diversas iniciais que apareciam nos documentos, cogitou-se o envolvimento do próprio Rajoy no esquema. E qual foi a reação do presidente do governo quando foi acusado de corrupção? Não só se negou a responder qualquer pergunta sobre o assunto, como deixou de aparecer nas coletivas de imprensa, pedindo a instalação de uma televisão de plasma na sala de imprensa para que os jornalistas presentes pudessem escutar o que ele tinha a dizer, mas não pudessem perguntar o que queriam escutar.
É desta mesma maneira que Rajoy enfrenta a crise territorial e política que representa o processo separatista da Catalunha. Os nacionalistas catalães seguem sua rota sem grandes hesitações. Sabem o que querem e quando querem; para eles, só falta definir como conseguir. Enquanto o presidente catalão Artur Mas aparece diariamente falando sobre o assunto, levantando questões importantes e contando o seu lado da história, Rajoy se cala e deixa as respostas a cargo de ministros de seu governo, especialmente (e ironicamente) do ministro de Assuntos Exteriores, José Manuel García-Margallo.
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Esta atitude também incomoda países vizinhos e, principalmente, autoridades europeias. Diversas vezes comissários gerais da União Europeia tiveram que responder a perguntas sobre o futuro de uma Catalunha independente dentro do bloco. A cada dois ou três meses, as embaixadas estrangeiras em Madri recebem informes e notas do governo catalão sobre algum assunto vinculado à independência. Sem sombra de dúvidas, a questão do encaixe da Catalunha dentro da Espanha já atravessou as fronteiras.
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Por 299 a 47 votos, o Congresso espanhol rejeitou o pedido do Parlamento catalão de realizar o referendo
Entretanto, neste caso, a falta de vontade de diálogo não é uma exclusividade de Rajoy. Apesar de repetir inúmeras vezes que tudo o que busca é o entendimento mútuo por meio do diálogo, Artur Mas não se esforça para sair de sua zona de conforto. O político catalão só aceita discutir a partir das bases já estabelecidas por ele — referendo no dia 9 de novembro e perguntas já elaboradas. Na grande chance de expor suas ideias e de debater a questão publicamente com os demais partidos do Congresso, Mas decide não viajar a Madri e permanecer em Barcelona.
Nesta terça-feira, no Congresso de deputados, todos os líderes partidários clamaram por um diálogo. Todos invocaram um acordo político nos mesmos moldes do que criou a Constituição pós-ditadura franquista. Mas no atual cenário, onde quem realmente decide só dialoga na certeza da vitória, a urgência é não fazer nada.