O programa 20 MINUTOS desta sexta-feira (25/08) entrevistou o educador João Raphael Ramos dos Santos, conhecido também como “Afroliterato”, mestre em educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e notório pensador afrobrasileiro.
O tema desta edição foi a onda de revoltas em países da África Ocidental, como Níger, Mali, Guiné e Burkina Faso. Iniciada em 2021, essa tendência chama a atenção por ocorrer em países que foram colonizados pela França e que ainda enfrentavam forte influência da antiga metrópole, razão pela qual os levantes realizados nessas nações – todes eles impulsionadas por militares – levantam o debate sobre se este seria a faíca de um novo movimento anticolonialista no contenente ou um retorno às ditaduras militares.
Segundo João Raphael, “após os processos de independência de muitos desses países do continente africano não se deram através de um afastamento total do colonizador francês. A França seguiu exercendo sua interferência e defendendo os seus próprios interesses nessas regiões”.
“O mapa que a gente vê hoje do continente africano é um mapa que foi desenhado após Conferência de Berlim, ainda no Século XIX, enquanto o mapa da África pré-colonial nos mostra melhor o grande número de diferentes grupos étnicos presentes na região. São grupos étnicos com culturas diferentes, com histórias diferentes, e que tiveram conflitos entre si. Então, as linhas demarcadas pela colonização unem várias etnias que nem sempre são etnias amigáveis umas às outras e que apresentam conflitos que estão vigentes até os dias atuais”, comenta o Afroliterato.
Para João Raphael, processos de independência em muitos países da África não se tiveram afastamento total do colonizador francês
O educador também ressalta que “ao longo da história (pré-colonial) essa região (da África Ocidental) foi marcada pela existência de grandes reinos, grandes impérios, como o Império de Gana, entre o Século III e o Século XIII, do Império do Mali, a partir do Século XIII até o Século XV, e do Império Songai, do Século XV ao Século XVI”.
“Isso vai produzindo uma história e uma cultura extremamente ricas que vão trazendo esse sentimento necessariamente anticolonial, nós estamos falando de regiões que foram grandes impérios antigamente e que têm uma história muito rica”, ressaltou João Raphael.
O Afroliterato também afirma que “esse sentimento anti imperialista é muito presente, em especial nesses países de colonização francesa, basicamente por conta da relação da França com esses países, no sentido de manter seus interesses ativos nesses países. Por exemplo, mantendo bases militares ativas nesses países. Após a revolta no Níger, a França teve que resgatar mais de 1,5 mil soldados franceses que estavam nessa região”.