O programa 20 MINUTOS desta segunda-feira (17/07) tratou sobre Jair Bolsonaro e o bolsonarismo. O ex-presidente vem acumulando derrotas nos últimos tempos, a mais recente foi a inelegibilidade por oito anos, determinada pelo Tribunal Superior Eleitoral. Mas, e o movimento político inspirado por ele, também sofre o mesmo enfraquecimento?
Para responder essa pergunta, o apresentador Haroldo Ceravolo Sereza conversou com João Cézar de Castro Rocha, professor de Literatura da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e um resiliente estudioso do bolsonarismo, observador do fenômeno desde a sua origem, analisando seu discurso, sua penetração e seu modus operandi.
O acadêmico está lançando o livro “Bolsonarismo: da guerra cultural ao terrorismo doméstico”, cujo subtítulo é “retórica do ódio e dissonância cognitiva coletiva”, pela Editora Autêntica.
Segundo Castro Rocha, a ideia do livro surgiu “depois de passar mais ou menos dois anos lendo Olavo de Carvalho e decifrando as estratégias discursivas da extrema direita, eu tentei caracterizar um fenômeno que me espantou tanto quanto a descoberta do caráter intrinsecamente lógico, com uma lógica peculiar mas intrinsecamente lógico, da guerra cultural bolsonarista”.
“O fenômeno, para dizer em uma frase, é a metamorfose interna do movimento, que em 2018 e 2019 era comandado pela guerra cultural, a partir da pandemia e da crise provocada no sistema de crenças bolsolavistas pela forma absolutamente criminosa da condução da política pública de saúde pelo Bolsonaro, pela demonstração de uma completa falta de empatia, que beira a psicopatia, da incapacidade completa de considerar o luto do outro, pelo mais absoluto desprezo pela vida dos compatriotas, eu proponho então, essa é a minha hipótese, que a guerra cultural deixou de ser suficiente para dar conta da militância”, acrescenta.
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João Cézar de Castro Rocha é um observador do fenômeno bolsonarista desde a sua origem
Castro Rocha explica que “a guerra cultura, que é basicamente uma disputa de narrativas para ganhou político imediato, progressivamente foi se transformando em uma forma de vida, e uma vez que ela se torna uma forma de vida, ela adquire um ethos religioso. Não é surpreendente que tenha sido nesse momento da pandemia que o apoio neopentecostal (ao bolsonarismo) se torna mais ostensivo e agressivo, e a partir daí a simples possibilidade da derrota eleitoral não é mais concebível”.
Sobre a atualidade do movimento e o enfraquecimento da figura de Jair Bolsonaro após novos escândalos e derrotas na Justiça, o professor enfatiza que “se em 2018 o Bolsonaro carrega o bolsonarismo, em 2022 o bolsonarismo carrega o Bolsonaro”.
“As chances de sobrevivência do bolsonarismo depende do progressivo desaparecimento do protagonismo da cena política. A extrema direita será tanto mais forte, quanto mais distante do (Jair) Bolsonaro. Por isso nós precisamos estar preparados, porque a vitória do 30 de outubro foi a maior derrota da extrema direita no Século XXI, mas para 2026 o bolsonarismo já prepara um candidato, o Tarcísio Gomes de Freitas, que em muitas circunstâncias é um adversário mais perigoso que o Bolsonaro”, ressaltou Castro Rocha.