O programa 20 MINUTOS desta segunda-feira (24/04) entrevistou Juliana Magalhães, doutora em Filosofia e Teoria Geral do Direito, pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).
Juliana é uma das organizadoras do livro “Brasi sob escombros – os desafios do Governo Lula”, junto com Luiz Felipe Osório, que é doutor em Economia Política Internacional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A obra recentemente lançada pela Editora Boitempo, faz um balanço do governo de Jair Bolsonaro, das eleições de 2022 e traça as perspectivas sobre o terceiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, levando em conta a encruzilhada política, econômica e social que o Brasil atravessa. Esse foi, justamente o tema da conversa entre Juliana e o jornalista Haroldo Ceravolo Sereza, que apresentou esta edição do programa.
Segundo a acadêmica, “o processo de destruição que se iniciou a partir do golpe de Estado de 2016 com o (Michel) Temer, se acentuou com Bolsonaro e temos tantos exemplos, como as centenas de milhares de mortos pela covid, o aumento da população em nível de extrema pobreza, entre outros elementos, e esse é o país que foi entregue a um governo Lula que, apesar de chegar ao poder com uma vitória eleitoral expressiva, terá um grande desafio para poder reconstruir esse país, decidir os caminhos que se deverá seguir”.
Arquivo pessoal
Segundo Juliana Magalhães, ‘Governo Lula precisa combater visão neoliberal’
A doutora em Filosofia do Direito também considera que “é importante entender como uma grande parcela da população brasileira que foi afetada diretamente pela péssima gestão de Bolsonaro continuou apoiando esse setor e muitos ainda estão mobilizados. Acho que é importante nós ressaltarmos como funcionam os aparelhos ideológicos do Estado e como eles operam no inconsciente das pessoas, constituindo a subjetividade das pessoas”.
“A extrema direita soube usar esses aparelhos ideológicos muito bem. Utilizando essa subjetividade capitalista, trazendo para si os elementos dessa subjetividade, com um discurso pseudo crítico, no qual o bolsonarismo se coloca ‘contra as instituições’, apesar de fazer parte delas, e ao mesmo tempo se colocando a favor da lógica do capital, do predomínio do grande capital, a favor da propriedade privada e de todas as formas sociais do capitalismo”, explicou Juliana.
A acadêmica também considera que a questão ideológica é fundamental para que o Governo Lula possa lidar com os desafios de reconstruir o Brasil. “Não se pode abraçar uma perspectiva de um neoliberalismo de esquerda, com medidas como a reversão de privatizações, reestatização de empresas públicas. Isso é uma questão central, mas há muito receio de ‘desagradar o capital’, e é óbvio que vai desagradar, e precisa desagradar, porque é preciso agir para melhorar as condições de vida da classe trabalhadora”.
“Há um evidente antagonismo de interesses entre o capital e a classe trabalhadora, então o governo deve se posicionar a favor da classe trabalhadora. Esse tipo de visão neoliberal precisa ser combatida e um governo de esquerda tem o dever de se colocar nessas questões de maneira decisiva”, frisou a entrevistada.