O jornalista Breno Altman, fundador de Opera Mundi, avalia que o propalado nervosismo do mercado se manifesta diante de Luiz Inácio Lula da Silva quando o discurso do presidente eleito demonstra com clareza que seu compromisso não é com esse ente chamado mercado, mas com o povo trabalhador brasileiro.
“Não há qualquer chance de mudar o país em favor dos trabalhadores sem enfrentar os interesses da burguesia financeira e seus associados, educando o povo o tempo todo a entender quem é essa gente, que, com raríssimas exceções, é inimiga da democracia, do desenvolvimento, da soberania e da justiça social. É isso que é o tal mercado: um inimigo da pátria”, resumiu o jornalista, no programa 20 MINUTOS desta segunda-feira (14/11).
Altman procura caracterizar o que ou quem é esse suposto sujeito chamado de “mercado”, uma fantasiosa pessoa jurídica tratada como pessoa física pelos veículos conservadores de comunicação, invariavelmente furiosos diante de quaisquer questionamentos a princípios da cartilha econômica neoliberal.
“Basta o líder petista mostrar que vai mexer no teto de gastos, na política privatista e na reforma trabalhista, por exemplo, para o tal mercado uivar e rugir. A Bolsa cai, o dólar sobe, editoriais e artigos alertam para o caos, comentaristas e analistas preveem o fim do mundo”, interpreta.
O “mercado” seria, assim, um eufemismo para disfarçar, por trás de uma expressão tecnocrática, os super ricos, os donos do dinheiro grosso. Essas instituições se conectam com outros setores, como a indústria, o comércio, a agropecuária, a mineração e os serviços, através de múltiplas relações baseadas em aplicações, investimentos e créditos, entre outras ferramentas.
“Mas o fluxo de capital se tornou tão dominante que podemos claramente apontar que o grupo dirigente entre os capitalistas é a burguesia financeira, ou o mercado, como prefere a imprensa de direita para esconder os interesses em jogo”, sintetiza Altman.
Paulo Fehlauer
‘Basta o líder mostrar que vai mexer no teto, na política privatista e na reforma trabalhista, para o tal mercado uivar e rugir’, afirma
A preocupação dos porta-vozes do mercado com a estabilidade do país não passa de cortina de fumaça: “quando Lula coloca responsabilidade sobre o social como um compromisso tão ou mais importante que a responsabilidade fiscal, a burguesia financeira, dando uma banana para o resultado das urnas, aponta seus canhões para defender austeridade fiscal, com teto de gastos ou qualquer outra medida que mantenha prioridade absoluta do pagamento dos juros referentes aos títulos da dívida interna no orçamento público.”
O objetivo dos oráculos do mercado, afirma Altman, é “colocar cabresto no homem eleito pelo povo para governar a nação segundo o programa pelo qual ele foi eleito”, conclui.
O tal mercado não se move por ideias ou desejo de ver o país se desenvolver, mas por interesses exclusivamente materiais: “as ideias são apenas uma camuflagem. A burguesia financeira usa seus recursos quase ilimitados para controlar meios de comunicação, universidades e centros de pesquisa e outros instrumentos ideológicos”.
O próprio nervosismo do tal mercado é calculado, na interpretação do jornalista. Na opinião de Altman, o Brasil só tem chance de progredir se Lula enfrentar as frações financeiras do capital e seus porta-vozes, inimigos das necessidades reais da maioria da população.