Teve enorme repercussão, dentro e fora do Brasil, a entrevista do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à revista norte-americana Time. Os trechos que foram mais comentados diziam respeito à guerra na Ucrânia. Sem papas na língua, sendo entrevistado por uma das publicações mais icônicas dos Estados Unidos, Lula sentou o verbo.
Criticou Putin pela ofensiva militar, mas responsabilizou a Casa Branca, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e o próprio governo da Ucrânia por criarem um cenário de ameaça contra Moscou, em função da escalada expansionista contra a Rússia.
“Putin não deveria ter invadido a Ucrânia. Mas não é só o Putin que é culpado. São culpados os Estados Unidos e é culpada a União Europeia. Qual é a razão da invasão da Ucrânia? É a Otan? Os Estados Unidos e a Europa poderiam ter dito: ‘A Ucrânia não vai entrar na Otan’. Estaria resolvido o problema”, disse o ex-presidente à publicação.
“Ele [Zelensky] quis a guerra. Se [não] quisesse a guerra, ele teria negociado um pouco mais. É assim. Eu fiz uma crítica a Putin quando estava na Cidade do México, dizendo que foi errado invadir. Mas eu acho que ninguém está procurando contribuir para ter paz. As pessoas estão estimulando o ódio contra o Putin. Isso não vai resolver!”, acrescentou.
Rapidamente as vozes alinhadas aos EUA, à União Europeia e ao governo ucraniano trataram de atacar as palavras de Lula.
Não faltaram os que atribuíram, na melhor das hipóteses, a um erro de campanha. Dizem que até gente do Partido dos Trabalhadores (PT) teve essa opinião. Buscando um perfil moderado e pacificador contra Bolsonaro, tentando atrair os mais amplos setores, Lula teria passado a linha vermelha da prudência ao criticar tão abertamente o partido do Ocidente, cuja sede fica em Washington, e que supostamente teria mais simpatia por ele do que pelo atual presidente brasileiro.
Afinal, Lula errou ou acertou em suas declarações a Time?
Ricardo Stuckert/Reprodução
Lula acerta na mosca quando denuncia a responsabilidade dos Estados Unidos, da União Europeia e da Ucrânia na guerra em curso, opina Altman
Essa foi a pergunta que o jornalista e fundador de Opera Mundi, Breno Altman, buscou responder no 20 MINUTOS ANÁLISE desta terça-feira (10/05), ponderando os motivos pelos quais as declarações do ex-presidente provocaram controvérsia.
“Lula acerta na mosca quando denuncia a responsabilidade dos Estados Unidos, da União Europeia e da Ucrânia na guerra em curso há quase três meses”, opina Altman, acrescentando que “a transparência e a valentia das palavras de Lula, na Time, não foram arroubos de uma liderança progressista, mas estado de necessidade”.
“São muito remotas quaisquer chances de desenvolvimento sustentável e soberano, para uma nação periférica, enquanto a ordem unipolar não for definitivamente enterrada”, conclui o jornalista.