No programa 20 MINUTOS INTERNACIONAL desta quinta-feira (24/02), o fundador de Opera Mundi, Breno Altman, entrevistou o embaixador e chanceler brasileiro durantes os governos Lula, Celso Amorim, sobre o conflito envolvendo a Ucrânia, a Rússia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Amorim reconheceu que a aliança militar vem contrariando os compromissos que assumiu após a reunificação da Alemanha e está comprometendo a integridade territorial e a segurança da Rússia, “mas isso não justifica a ação militar que a Rússia tomou, foi um erro de estratégia de [Vladimir] Putin”.
“Só a ONU possui a prerrogativa para autorizar uma ação militar, e nem sempre estou de acordo com isso, ou um país pode reagir em legítima defesa, que não foi o caso. Na época da Guerra do Iraque, os Estados Unidos alegaram legítima defensa preventiva. Eu condenei na época, e sigo condenando, então não posso deixar de condenar o que a Rússia está fazendo. É uma violação grave do direito internacional”, argumentou o ex-chanceler.
Ele confessou ter se surpreendido com a ação militar adotada por Putin, que enviou tropas militares para as regiões de Lugansk e Donetsk, cidades separatistas pró-russas que foram reconhecidas como regiões independentes por Moscou.
“Achei que reconhecer Lugansk e Donetsk como regiões independentes era uma medida que Putin adotou para conseguir vantagens de negociação. Por exemplo, oferecer ‘de volta’ essas regiões em troca delas terem poder de veto nas decisões sobre política exterior da Ucrânia, evitando, assim, sua incorporação à Otan. Mas ele foi além, acho que muito levado pelo seu lado emocional”, ponderou.
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Para o ex-chanceler, Otan vem contrariando os compromissos que assumiu após a reunificação da Alemanha
Para ele, Putin tinha outras opções. Poderia seguir reforçando sua fronteira e enfatizando a disposição de atacar caso fosse atacado, sem entrar em território ucraniano. Ao mesmo tempo em que, a nível diplomático, buscasse demonstrar as acusações que têm sido feitas de perseguição aos separatistas em Lugansk e em Donetsk por parte de Kiev. “Também podia ter aproveitado o movimento de [Emmanuel] Macron e do [Olaf] Scholz para convocar as potências que estiveram presentes nos Acordos de Mink para retomá-los”, defendeu.
Reações e soluções
Diante da decisão russa, Amorim discorreu sobre a reação dos EUA e da Europa. Em sua opinião, as movimentações militares norte-americanas serão de cunho indireto, fornecendo armamentos como drones e armas, mas sem o envio de tropas.
“Mas acho que a ênfase vai ser nas sanções, até para a União Europeia não se desgarrar da visão dos EUA para o conflito. Devem reforçar o apoio militar à Ucrânia, mas sem a presença de tropas e em algum momento acho que a Rússia vai querer conversar e vai finalizar sua ação militar”, destacou.
Segundo o ex-chanceler, que se mostrou relativamente otimista com relação à situação, não há a intenção da Rússia de efetivamente ocupar a Ucrânia, como está sendo acusado pelo Ocidente, “mas não significa que essa operação especial de Putin não seja preocupante”.
Com relação a possíveis soluções ao atual imbróglio, ele sublinhou que uma saída só será encontrada quando Moscou terminar com sua ação militar, “o que deveria ser imediatamente”, para recomeçar os diálogos com base nos princípios do direito internacional.