O sociólogo e cientista político Celso Rocha de Barros afirmou, no programa 20 MINUTOS desta terça-feira (18/10), que o Partido dos Trabalhadores terá de fazer no próximo período o papel de força restauradora da Sexta República, iniciada com o final da ditadura militar (1964-1985) e interrompida pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016.
“Desde a minirreforma política de 2017, está havendo uma concentração partidária no Brasil. Alguma espécie de consolidação de um bloco que reúna a esquerda e o centro é bem provável”, prevê.
Autor do livro recém-lançado PT, uma História (Companhia das Letras), Barros responde a indagação do jornalista Breno Altman sobre a probabilidade do partido, ao longo desse processo, acabar se transformando num novo PMDB.
“Deus nos livre, mas não é impossível. Em tese, é possível evitar que a esquerda dilua sua identidade no processo. Não é obrigatório que o PT vire o que o PMDB virou. Talvez fosse possível o PMDB dar certo, talvez tenham errado em algum ponto”, disse.
Na comparação entre o momento atual e o da transição democrática dos anos 1980, o colunista da Folha de S. Paulo destaca a correlação de forças “espetacularmente desfavorável” do momento atual para o PT e a esquerda. Para ele, a legenda tinha uma “posição mais radical”,
“´Mas sabia que naquele momento havia uma força muito maior fazendo a negociação da transição democrática, o PMDB. O PT radicalizava por baixo, inclusive para puxar a transição para a esquerda, o que durante a Constituinte gerou alguns sucessos notáveis. Neste momento não existe mais esse PMDB”, afirmou.
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Sociólogo e cientista político Celso Rocha de Barros é convidado de Breno Altman no 20 MINUTOS desta terça-feira (18/10)
Confrontado por Altman sobre o eurocentrismo da tese de PT, uma História, que poderia estar subestimando a luta anti-imperialista e o peso do marxismo na formação e na consolidação do PT, o sociólogo insiste em diferenciar teoria e prática: “o decisivo é o que prevaleceu na hora que o partido teve que fazer uma escolha. Para mim, é bastante claro que foi o interesse de classe, de conseguir melhorias sociais e progressos de bem-estar social dentro do capitalismo”.
Barros afirma que o que determinou o desenvolvimento do partido foi o fato de ter nascido dos sindicatos da classe operária, aliado às circunstâncias da redemocratização brasileira. Ainda assim, classifica o PT como um caso de sucesso na esquerda mundial, porque não apenas ganhou eleições como conseguiu fazer, na prática, uma política de redistribuição de renda importante.
Outro ponto de discussão é o sentido do impeachment de 2016, que o cientista político classifica como fraude, e não como golpe de Estado. “Acho melhor guardar a definição de golpe para uma coisa como o que Bolsonaro está dizendo, um conflito mais acirrado e violento”, diferencia, preferindo situar episódios como o impeachment, a Operação Lava Jato e a prisão de Luiz Inácio Lula da Silva no contexto do decréscimo da qualidade das democracias ao redor do mundo.
Segundo Barros, a compreensão desse processo pode mudar no futuro, a depender dos resultados das eleições atuais e do futuro próximo. “O debate ainda está em aberto. Se, Deus nos livre, Bolsonaro conseguir dar um golpe ou fechar o sistema, tenho certeza que os historiadores vão lhe dar razão”, respondeu à argumentação de Altman.