O fundador de Opera Mundi, Breno Altman, conversou nesta quarta-feira (15/02) no programa 20 MINUTOS com o ex-guerrilheiro Humberto Paz sobre o sequestro do empresário brasileiro Abílio Diniz.
Nascido na Argentina, Humberto Paz foi militante do PRT (Partido Revolucionário dos Trabalhadores) e de seu braço armado, o ERP (Exército Revolucionário do Povo), nos Anos 70 e 80. Participou, entre 1976 e 1983, da resistência armada ao regime militar argentino. Obrigado a se exilar, primeiro na Europa e, depois, em diversos países da América Latina, vinculou-se ao MIR (Movimento da Esquerda Revolucionária), do Chile, e se engajou na solidariedade às forças revolucionárias de El Salvador, então representadas pela FMLN (Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional).
Em dezembro de 1989, às vésperas das primeiras eleições presidenciais desde o golpe empresarial-militar de 1964, Paz foi designado pelas direções dessas duas organizações, o MIR e a FMLN, para chefiar o comando guerrilheiro que sequestraria o empresário brasileiro Abílio Diniz.
Paz afirma que a realização do sequestro de Diniz foi pensada em meio à decadência da União Soviética e a resistência das forças revolucionárias de El Salvador, que já percebiam a necessidade de um processo de paz após grande resistência. “Para isso era preciso realizar uma última operação revolucionária, para financiar essa campanha guerrilheira, fundos eram necessários. Assim, recorreram em direção ao setor revolucionário do Chile (MIR) para este apoio”, concluindo que juntos, organizaram a operação.
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Ex-guerrilheiro argentino Humberto Paz é convidado de Breno Altman no 20 MINUTOS desta quarta-feira (15/02)
Esse caso seria fartamente utilizado contra a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, líder do PT, que havia passado ao segundo turno contra Fernando Collor, principal representante dos setores de direita. No dia anterior à votação, em 16 de dezembro, diversos veículos de comunicação estampavam fotos na qual alguns dos sequestradores apareciam vestidos com camisetas do PT. O próprio sequestro era atribuído, por operadores do campo conservador, ao partido de Lula, com alguns jornais estampando essa notícia em suas capas.
Breno Altman destacou que essa foi uma das primeiras e mais severas ondas de fake news contra o PT, que se arrastaria por décadas, até chegar à última campanha eleitoral, quando Jair Bolsonaro e seus aliados voltaram a utilizar as mentiras como principal arma política, como em 1989.
Questionado por Altman sobre a data da operação contra Diniz, uma vez que a esquerda tinha chances de vitória, o ex-guerrilheiro declara que a tomada de decisão foi baseada “na necessidade de El Salvador, sem considerar a situação política do Brasil”.
“Naquele momento não levaram a política brasileira em conta, e isso foi um grande erro. Reconhecemos esse erro perante o PT e o processo político brasileiro, porque a operação prejudicou a democracia do país”, completa.
Sobre as supostas participações de grupos políticos brasileiros na operação contra Diniz, Paz declara que nenhuma organização do Brasil estava envolvida.
“As camisetas, panfletos e cartazes do Lula foram foram armações policiais. O veículo que fomos detidos tinham cartazes e materiais propagandísticos do Lula e do PT”, confirma.