No programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta quarta-feira (27/04), o jornalista Breno Altman entrevistou o professor e cientista político especialista em pesquisas de opinião pública Antonio Lavareda, presidente do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (IPESPE).
Atualmente, de acordo com a última pesquisa realizada pelo IPESPE, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem 38% das intenções de voto espontâneo, enquanto o mandatário Jair Bolsonaro tem 28%. Já nas pesquisas de voto estimulado, o petista tem 45% das intenções de voto e o presidente tem 31%.
A partir desses dados, Lavareda afirmou que a tendência de uma campanha eleitoral polarizada é praticamente irreversível e analisou as táticas dos dois candidatos.
Para ele, Bolsonaro, ao repetir a estratégia de 2018, mobilizando um sentimento antissistema, se equivoca: “em geral você precisa radicalizar seu discurso quando você está ameaçado. Não tem nenhuma candidatura de direita mais extrema, ninguém atacando sua posição como demasiadamente moderada. Bolsonaro se beneficiaria de um avanço em direção ao centro”.
Sem falar que, enquanto em 2018 o sentimento dominante era a raiva e indignação, atualmente o sentimento é de medo e cautela, muito por conta da pandemia do novo coronavírus, o que faz com que, segundo o especialista, os eleitores rejeitem candidaturas radicais.
Por outro lado, o professor refletiu que o presidente pode não estar tentando angariar mais votos, mas, sim, “manter a taxa de entusiasmo e engajamento de seus adeptos”. Mesmo assim, “ele deveria dosar melhor essa retórica antissistema se seu objetivo é realmente ganhar a eleição”.
Já no caso de Lula, a decisão de nomear Geraldo Alckmin como vice-presidente da chapa foi vista por Lavareda como um “cálculo acertado”. A estratégia leva em conta a mudança do sentimento da população e já está funcionando no sentido de arrefecer as críticas ao ex-presidente, que vinha sendo taxado de radical.
“Uma candidatura antissistema só ajudaria a incendiar o país, não corresponderia às demandas da população, com medo e prejudicada pela pandemia. Além de que Lula começou já no teto de intenções de voto, ele precisa adotar uma estratégia de manutenção, manter seu contingente de eleitores. Portanto, diminuir a crítica ao extremismo, se aproximar da centro-direita não é um movimento para ganhar eleitores, é para manter os que já tem”, reforçou.
O professor destacou que Lula conta com outra vantagem: é um ex-presidente cujo governo conta ainda hoje com alta taxa de aprovação. “Lula tem comandado as pesquisas não pelo que vem prometendo, mas pelo que representa”, ressaltou.
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Cientista político Antonio Lavareda foi o entrevistado de Breno Altman no 20 MINUTOS ENTREVISTA desta quarta-feira (27/04)
Assim, a estratégia do petista não pode se limitar à pacificação de classes, como deve se esforçar para resgatar os feitos de seu governo, sobretudo levando em consideração a quantidade de brasileiros que não viveram seu governo ou não se recordam, “ou que não processam adequadamente as lembranças sobre ele”. A partir daí, deveria fazer um contraste com o governo em curso, de acordo com Lavareda.
Desidratação da terceira via e recuperação de Bolsonaro
Apesar dos erros táticos de Bolsonaro, o especialista alertou que a eleição não pode ser dada como ganha e que é necessário falar sobre a recuperação do presidente. Segundo ele, essa recuperação vem acontecendo e deve continuar a acontecer devido ao esvaziamento da terceira via e a queda de pré-candidaturas como a de Sergio Moro.
“Bolsonaro se beneficia dessa tendência. Um espectro político mais plural é bom para o PT e para a população que comunga com valores liberais, mas tem um compromisso com a democracia. Até porque, quem vai continuar representando esse setor se o centro deixar de ter força eleitoral? Parte desse grupo votou em Bolsonaro em 2018, ele pode acabar atraindo-o outra vez”, ponderou.
Isso pode ocorrer principalmente se a economia começar a dar sinais de recuperação, apontou Lavareda. Aliás, na opinião do professor, a campanha de Bolsonaro será pautada por valorizar as conquistas econômicas que teve, justificar por que não pode levar a cabo outras medidas, realizando uma releitura de seu governo e da atual crise econômica a fim de dar credibilidade a futuros projetos.
“Agora, se Lula continuar liderando e a terceira via desaparecer, pode ser que Lula atraia esses votos também porque até agora não se deu o efeito gangorra. Bolsonaro está se recuperando, mas Lula não está enfraquecendo”, sublinhou.