O jornalista e fundador de Opera Mundi, Breno Altman, recebeu no programa 20 MINUTOS desta segunda-feira (17/04) a socióloga e economista política Sabrina Fernandes para uma entrevista com o tema “ecossocialismo é a saída para o Brasil?”.
Quando perguntada sobre a “decomposição” da ordem mundial unipolar estabelecida em 1991, com a queda da União Soviética, e a nova polarização (China x Estados Unidos), Fernandes afirmou acreditar “que é natural sairmos de uma ordem unipolar para uma ordem bipolar”.
Ela continua: “por conta do potencial chinês, desta questão de ser um grande parceiro comercial de tantas economias emergentes, no Sul Global, isso acaba sendo muito evidente. […] Há um interesse hegemônico dos Estados Unidos em garantir essa reprodução de sua hegemonia, ao fazer esta polarização também”, analisa.
Veja entrevista na íntegra:
Na opinião da socióloga, os países emergentes estão pensando a partir de uma perspectiva de não-alinhamento com as tentativas hegemônicas norte-americanas. “É parte de uma discussão contra uma nova Guerra Fria, para não entrarmos naquela mesma dinâmica anterior, até porque o mundo mudou incrivelmente de lá para cá, e temos uma realidade que está cada vez mais interligada por conta de crises globais”, declara.
Ao debater o conflito entre a Rússia e Ucrânia, a economista disse que classifica a guerra como um lugar que “existem interesses interimperiais”, e cita o norte-americano Noam Chomsky para lembrar que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) “é a maior ameaça militar que temos no mundo hoje”.
“No Ocidente, a Otan é propagada como garantidora de soberanias e fronteiras, mas não observa-se qual é o poder desta aliança, que surge do anticomunismo, para tentar garantir uma lógica unipolar da qual temos nos deslocado”, diz Fernandes.
Também destaca que o conflito deve ser abordado com cuidado, “porque estamos falando de disputas étnicas e territoriais que já vêm de muito tempo, não é algo recente, que inclusive não pode ser resumido a Putin ou Zelensky”.
“É preciso reconhecer o que é a presença da extrema direita na Ucrânia, nesta disputa, que inclusive ganha com a 'invasão' e a entrada de Putin, porque pode afirmar que está 'apenas se defendendo'”, completa.
Trazendo a conversa para a posição do presidente Lula dentro da guerra, a socióloga afirma que quando o petista se recusou a vender armas para Zelensky, foi uma “posição interessante”, “nossa postura, como países latino-americanos, é de defesa da paz, delineada há muitos anos”, conclui.
Sabrina Fernandes/Twitter
Para Fernandes, países emergentes estão pensando a partir de uma perspectiva de não-alinhamento