O geólogo Guilherme Estrella, diretor de exploração e produção da Petrobras nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, defende a criação de uma superempresa estatal que agrupe a gestão soberana de todas as fontes de energia disponíveis no Brasil, sejam fósseis ou renováveis, como petróleo, energia eólica e solar e biocombustíveis.
“Esse seria o grande trunfo brasileiro de inserção no novo mundo multipolar, com uma empresa brasileira, de capital brasileiro, com desenvolvimento tecnológico brasileiro”, afirmou, em conversa com o jornalista Breno Altman, no programa 20 MINUTOS desta quarta-feira (16/11).
Segundo ele, o país é “é extraordinariamente rico em seu próprio território, sem precisar invadir o Iraque para pegar petróleo”, creditando a ideia de criação de um ente estatal maior que a Petrobras ao economista Luiz Gonzaga Belluzzo.
Para Estrella, o Brasil tem plenas condições de garantir autossuficiência de produção e política de preços, desde que estatais como a Petrobras sejam mais comprometidas com o desenvolvimento industrial nacional que com a lucratividade financeira imediata.
“A dimensão da Petrobras é a dimensão do Brasil, da soberania nacional. O Brasil só pode se inserir no grande mercado mundial sendo soberano, e energia é a base fundamental da soberania”, defende.
Considerado “o pai do pré-sal”, por sua participação na exploração do reservatório que classifica como a maior província petrolífera descoberta nos últimos 50 anos, Estrella explica que a exploração das reservas garante segurança energética e, portanto, soberania ao Brasil. “A descoberta do pré-sal veio dar à Petrobras uma gigantesca reserva de recursos e riqueza. Deu segurança em termos de suprimento nacional, que precisa ser aumentado”, considera.
CUT/RS
Segundo o ex-diretor da Petrobras, Brasil é ‘extraordinariamente rico em seu próprio território’
A indústria petrolífera não representa risco ambiental para o Brasil, ele sustenta: “o problema ambiental brasileiro é a floresta amazônica, o desflorestamento. Na Petrobras nos orgulhamos de que estamos produzindo mais de 1 milhão de barris por dia há anos e não caiu uma gota de óleo no mar. Se caísse uma gota, seria manchete no Estadão e n’O Globo”.
Os governos petistas a partir de 2003 orientaram uma política de produção de conteúdo nacional, construindo plataformas e permitindo desenvolvimento científico e tecnológico, para que o país reassumisse protagonismo na exploração e produção de petróleo.
O pré-sal acendeu um movimento internacional para bloquear o avanço do Brasil, em sua visão: “éramos um gigante com pés de barro, por causa da energia. Se esse gigante consegue energia para os próximos 30 ou 40 anos, é uma grande ameaça ao poder do polo hegemônico da época. A Lava Jato é obra norte-americana, não só programada, projetada e operada, mas remunerada pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos”.
Fazendo um balanço do potencial que Lula encontrará em seu terceiro governo, Estrella afirma que as reservas do pré-sal podem suprir o país por 30 anos, “uma vantagem enorme que nós temos”.
O pré-sal não é rico apenas em petróleo, mas também em gás, que não está sendo aproveitado na lógica atual de alta lucratividade da exploração. “Esse gás é rico em matérias-primas petroquímicas e de fertilizantes nitrogenados. Pode dar suporte permanente ao agronegócio brasileiro, sob domínio do Estado”, conclui o geólogo.