No programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta quarta-feira (30/03), o jornalista Breno Altman entrevistou o ex-presidente da Petrobras (2005-2012) José Sergio Gabrielli sobre os rumos da empresa.
O ex-presidente da estatal afirmou que é preciso retomar o papel da Petrobras “como centro da política brasileira, fundamental para a consolidação da soberania nacional”.
Entretanto, ele foi realista ao afirmar que, mesmo assim, será “quase impossível” voltar aos moldes que havia durante os governos petistas, considerando o desmonte que foi feito. O que pode ser feito é uma redefinição e a construção de uma nova rede de distribuidoras, “o que também sairia mais barato do que reverter as privatizações”.
Privatização
Gabrielli, que também é pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), discorda de uma eventual privatização da empresa, mas acredita que o capital da Petrobras deveria continuar aberto, mantendo a possibilidade de se ter acionistas privados.
“Acho um desperdício de recursos, porque seria transferir para o capital financeiro um volume gigantesco de dinheiro que estamos tirando da fome, de investimentos na indústria, do crescimento do Brasil”, afirmou.
Ele também discordou da proposta de fusão da Petrobras com a Eletrobras. São, segundo Gabrielli, empresas de culturas distintas: enquanto a Eletrobras é focada na geração de energia, “trabalhando em forma de holding”, a Petrobras é uma empresa integrada (da produção à distribuição).
“Pegar uma empresa integrada e juntar com uma de geração pode gerar confusão na gestão e fortalecer o argumento da privatização, porque aumenta a quantidade de acionistas, as ações vão para o mesmo lugar”, sustentou.
Para ele, a ação imediata a respeito da Petrobras, que deveria ser tomada por um eventual novo governo de esquerda, deveria ser anunciar um novo plano estratégico para a empresa.
“A nova diretoria tem um ano de mandato a partir do dia 13 de abril, que é quando ocorrerá a assembleia dos acionistas. Então, nos primeiros meses de governo, ele não estará a mando, a não ser que a diretoria renuncie. Portanto, nesse período há que se formular diretrizes de um plano estratégico para que inclusive o mercado financeiro veja que haverá mudanças”, argumentou.
Flickr/World Economic Forum
José Sergio Gabrielli foi o entrevistado desta quarta do 20 MINUTOS ENTREVISTA
Para Gabrielli, esse plano deveria conter: intervenção na política de preços; abastecimento do mercado brasileiro; construção de refinarias; revisão da política de lucros e dividendos; “e repensar o papel da Petrobras em novas áreas enquanto empresa que tem importante impacto na energia, não só no petróleo”.
Nova política de preços
Toda essa reformulação também deveria levar, diz, em conta uma nova política de preços. A partir de 2016, os preços começaram a ser ajustados instantaneamente diante de qualquer mudança no mercado internacional e a capacidade das refinarias foi reduzida, também para justificar privatizações, gerando mais importações, o que aumenta o preço da gasolina, do diesel e do gás de cozinha.
Na época em que era presidente, ele explicou que as refinarias operavam a toda capacidade e os preços não eram repassados imediatamente.
“[Agora] Lula fala em abrasileirar o preço, levando em conta a realidade da população. Temos um dos menores custos do mundo em extração, uma produtividade gigantesca, mas não somos autossuficientes em derivados, de modo que, se a economia voltar a crescer, aumentando o consumo, podemos acabar tendo escassez. Para evitar esse cenário, temos que voltar a ampliar nossa capacidade de refino”, explicou.
Para além disso, ele retomou a importância da construção de uma nova rede de distribuidoras, já que uma estrutura privatizada, como a atual, impede que a Petrobras regule os preços, de modo que não são só as importações e capacidade de refino que determinam o preço do combustível, mas a própria distribuidora e o dono do posto.