O programa 20 MINUTOS desta sexta-feira (24/02) entrevistou a economista Leda Paulani, graduada pela Universidade de São Paulo (USP), a mesma pela qual ela completou seu doutorado e onde é professora livre docente desde 2004. Ela é autora, entre outras obras, de “Modernidade e Discurso Econômico” (2005) e “Brasil Delivery” (2008), ambos publicados pela editora Boitempo.
Na conversa com o jornalista Breno Altman, fundador de Opera Mundi, Leda foi convidada a analisar os primeiros meses do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, especialmente no que diz respeito à sua política econômica.
Segundo a economista, “existe uma disposição do novo governo em recuperar o dinamismo da economia brasileira e mudar esse cenário onde temos 33 milhões de pessoas passando fome, uma desigualdade [social] enorme, 100 milhões de pessoas em nível de insegurança alimentar e outras coisas desse tipo”.
Leda também comentou sobre os projetos do governo visando a reindustrialização do Brasil, “sobretudo nesse âmbito do que se chama hoje de ‘economia verde’, que é algo que requer um acordo entre diferentes setores da sociedade, e isso é algo que não se constrói da noite para o dia”.
Editora Boitempo
Leda Paulani reconheceu que o presidente Lula acerta ao questionar a forma como o Banco Central funciona atualmente
“Nos dois primeiros mandatos do presidente Lula, e também durante os mandatos da presidenta Dilma, houve programas que conseguiram reduzir as desigualdades, aumentar o poder de compra do salário mínimo, diminuir o desemprego, realizou vários programas como as cisternas, o Luz Para Todos e outras políticas que melhoraram a vida das pessoas, só que eles fizeram tudo isso mantendo a moldura institucional da economia brasileira, aproveitou um cenário extremamente favorável da economia mundial, conseguiu acumular as reservas que estão salvando a economia brasileira até hoje, mas não promoveu mudanças estruturais”, analisou a economista.
A professora da USP disse esperar do novo governo “um projeto mais de longo prazo, com mudanças estruturais [na economia], que não necessariamente se coaduna com o timing da política”, e destacou que uma dessas batalhas para se chegar às mudanças estruturais é a questão da independência do Banco Centra, e reconheceu que o presidente Lula está comprando essa briga, que ela considera necessária.
“Da forma como as coisas estão estabelecidas atualmente, o Banco Central atua de fato como um quarto poder, porque ele, junto como o Comitê de Política Monetária (COPOM), toma decisões sobre a taxa de juros e não responde sobre isso a ninguém, nem ao Presidente da República, o que é bizarro, porque o Banco Central é um órgão do Poder Executivo”, lembra Paulani.