No programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta segunda-feira (04/04), o jornalista Breno Altman entrevistou a bailarina, apresentadora de tv e radialista russo-ucraniana Lola Melnyck. Nascida em Odessa, na Ucrânia, quando o país ainda era território soviético, a convidada falou sobre o atual conflito entre seus dois países países. Desde 2009 ela vive em São Paulo, fala português fluentemente e tem protagonizado vários programas de rádio e televisão.
Ela explicou que o cenário atual é resultado do golpe contra o então presidente ucraniano Viktor Yanukovych, em 2014. “As pessoas que não reconheceram o golpe e, depois, a eleição de Volodymyr Zelensky, eram das regiões que se identificavam com a Rússia, como Lugansk e Donetsk. São pessoas que são ucranianas, não negam o idioma ucraniano, mas historicamente falam mais russo e não querem deixar de falar russo. Essas pessoas começaram a ser exterminadas, porque Kiev queria acabar com qualquer coisa que remetesse à Rússia.”
Quem exercia essa repressão eram grupos como o Batalhão Azov, uma organização paramilitar nacionalista de extrema direita ucraniana. Lola relembrou o massacre de Odessa, sua cidade natal, no qual mais de 40 pessoas foram mortas na Casa dos Sindicatos, em maio de 2014. “A gente sabe quem fez aquilo. E nenhum carro de bombeiro ou ambulância chegava, a polícia não vinha. As provas, depois, acabaram sumindo”, denunciou.
Por isso, ela foi taxativa: “O governo de Zelensky é integrado por forças nazistas. Ele tentou humanizar as ações de grupos como o Batalhão Azov, inclusive condecorando os comandantes, porque hoje estão supostamente protegendo o povo ucraniano dos russos, como se estivessem conduzindo ações militares normais”.
Assim, embora não defenda a guerra e ressalte ser contra a invasão da Ucrânia, reforçou que se trata de um conflito cujas raízes tem vários anos, desde que o novo governo ucraniano, resultado do golpe de 2014, decidiu incorporar o país à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), reprimir a minoria russa, dissolver as repúblicas populares do Donbass, no leste do país, e se aliar com os Estados Unidos contra Moscou.
Arquivo Pessoal
Nascida em Odessa, na Ucrânia, a também apresentadora de TV falou sobre o atual conflito entre os países
Por outro lado, na avaliação da apresentadora, o conflito tomou proporções que ninguém imaginava. Segundo ela, Putin esgotou todas as opções que tinha, de modo que acabou optando pela intervenção militar. No entanto, “ele levou uma surpresa e tanto”, já que, para a atriz, Putin “pensou que ia entrar lá e em quatro ou cinco dias teria resolvido a questão”.
“São os EUA que financiam as elites e essas esperavam que Washington injetasse mais dinheiro com o conflito. Só que os EUA são conhecidos por prometerem mais do que entregam. Acho que o Zelensky está arrependido. Saiu do controle dele, virou uma marionete nas mãos do Ocidente, porque os EUA não querem que o conflito cesse, estão ganhando muito dinheiro. E Putin, que não é nenhum santo, agora que começou com tudo isso, vai até o fim”, ponderou.
‘A URSS era um país incrível’
Lola também afirmou que “a URSS era um país incrível e admirável”, do qual ela ainda tem muito orgulho. A atriz exaltou o excelente sistema de educação e de saúde pública, além da garantia de emprego.
“Mas, para ser justa, tinha partes negativas. Era um país que vinha de uma sucessão de guerras, que estava devastado, com as mulheres levantando o país porque muitos homens haviam morrido. Havia pobreza e escassez”, declarou.
Seus quatro avós lutaram na Segunda Guerra Mundial e todos, assim como seus pais, estavam inscritos no Partido Comunista. A atriz contou que ela começou sua formação política nas juventudes da legenda, mas nunca chegou a se filiar, pois a URSS ruiu antes.
Criticando o governo Boris Yeltsin (1991-1999), afirmou que o governo Putin reconstruiu o país e o tirou de um cenário que combinava penúria com criminalidade. “Sua administração não é uma tirania, mas tampouco posso afirmar que seja um governo democrático. Não é nenhum santo, mas levantou a Rússia”, avaliou.