No programa 20 MINUTOS desta quarta-feira (17/05), Breno Altman voltou a abordar o tema da guerra entre Rússia e Ucrânia, tendo como convidada a jornalista brasileira Ana Livia Esteves, residente em Mosco, onde trabalha como correspondente da agência russa RIA Novosti.
A jornalista afirmou que não existe na Rússia, atualmente, uma expectativa de um fim da guerra a curto prazo. “O que nós vemos é a aprovação de várias leis que preparam o país para um esforço de guerra prolongado. Mesmo que, no teatro de guerra, a gente possa ter algum tipo de cessar-fogo, isso não quer dizer que o estado de mobilização social aqui na Rússia deva acabar muito cedo”, comentou.
Ana Livia também afirmou que, a partir de publicações na imprensa dos dois países, é possível dizer que uma contraofensiva ucraniana está sendo esperada pelo governo russo desde fevereiro deste ano, mas que ela estaria sendo adiada por diferentes motivos, incluindo o vazamento de dados sigilosos do Pentágono, ocorrido semanas atrás, e o atraso do recebimento de armamentos enviados pelos aliados de Kiev.
“Atualmente, nós temos um aumento das atividades militares ucranianas em toda a linha de frente, segundo o governo russo e na cidade de Bakhmut. Mas isso não significa que esse seja o início da operação ucraniana. Isso pode significar que, talvez, o anúncio oficial do início da contraofensiva nunca venha, para que a gente não tenha que decretar o eventual fracasso dela, que parece que é o que está acontecendo agora, ou tem mesmo muito mais a vir pela frente e o exército russo vai ter que esperar mais alguns meses por essa contraofensiva”, analisou a jornalista.
Outro tema importante da entrevista foram as iniciativas para se instalar um diálogo de paz entre Rússia e Ucrânia, especialmente o promovido pelo presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.
A respeito disso, Ana Livia disse discordar de parte da imprensa brasileira que considera que as ações brasileiras nesse sentido ainda não produziram nenhum efeito concreto. “Nós tivemos um grande número de reuniões sobre paz nestas últimas semanas, e um dos efeitos que esse impulso do Lula pela paz já conseguiu produzir foi fazer Moscou colocar suas condições para a paz de uma maneira muito mais clara”, recordou.
“A Rússia agora pede: neutralidade ucraniana, recusa da Ucrânia em ingressar na Otan e na União Europeia, nas duas organizações, de Kiev adotar internacionalmente o status de país livre de armas nucleares e o reconhecimento do que Moscou considera como ‘novas realidades territoriais’ na Ucrânia. Isso pode ensejar tanto a questão da Crimeia, para que ela tenha que ser reconhecida internacionalmente como território russo, como os casos de outras regiões”, comentou a jornalista.
Sobre a repercussão em Moscou da proposta oferecida por Lula de promover um diálogo de paz entre Rússia e Ucrânia incluindo um grupo de países considerados neutros, Ana Livia disse que “no começo, essa oferta foi recebida não com ceticismo mas com um certo silêncio, mas depois a coisa mudou totalmente de figura. A gente sabe que o Celso Amorim foi recebido pessoalmente pelo presidente [Vladimir] Putin. Isso indica que Moscou está levando bastante a sério essa questão, justamente porque o Lula fez uma coisa que eu achei muito importante, logo no começo do mandato dele, algo que achei até mesmo ousado da parte dele, que foi chamar a China para o centro do palco, falando da necessidade de a China ter um papel maior [nas negociações de paz]”.
“Há mudanças no comportamento da Rússia durante estes últimos meses e nós temos motivos para acreditar que elas foram provocadas também pela intervenção do presidente Lula nesse assunto. Talvez a Rússia ainda tenha dificuldades para ver como o Brasil pode ter um papel nas negociações sobre estabilidade estratégica, que são as negociações necessárias com os Estados Unidos sobre controle de armamentos”, acrescentou a correspondente.