O pastor batista Henrique Vieira afirmou, no programa 20 MINUTOS desta sexta-feira (21/10), com o jornalista Breno Altman, que o afastamento entre a esquerda e o campo evangélico, formado majoritariamente por brasileiros da classe trabalhadora empobrecida, ajuda a explicar a desvantagem do candidato petista, Luiz Inácio Lula da Silva, junto a esse público.
“Se a esquerda quer um projeto popular, que não seja apenas para o povo, mas com o povo, ou ela dialoga com o campo evangélico ou ela dialoga com o campo evangélico”, declara o deputado federal recém-eleito pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) do Rio de Janeiro.
Atrás de uma imagem idealizada e abstrata do que seja um cidadão evangélico, lembra, existem trabalhadores pauperizados, explorados e precarizados. Alerta que o campo evangélico é majoritariamente popular, formado por trabalhadores e trabalhadoras do campo, da cidade, da favela, da periferia. “Há na esquerda um preconceito elitista, racista, que olha para o campo evangélico e acha que é ignorância, desinformação, massa de manobra, gado, gente sem cultura”, lamenta o também ator, poeta e escritor.
O pastor da Igreja Batista do Caminho considera que os preconceitos são recíprocos e diz entender e respeitar a resistência progressista ao avanço de um fundamentalismo evangélico no Brasil. “Não quero lutar contra o sentimento de pessoas que podem ter sido feridas por um fundamentalismo que não aceitou seu corpo, seu desejo, sua pergunta, sua orientação sexual”, disse.
Ele ressalva também que, em termos eleitorais, é desigual a disputa eleitoral atual entre a esquerda e a direita que campeia nas igrejas: “a extrema direita se utiliza de mecanismos ilegais, antiéticos, imorais, criminosos, financiando fake news em escala industrial no subterrâneo da internet. Lideranças pastorais corruptas e corrompidas partem do púlpito para criar um ambiente de ameaça e hostilidade dentro das igrejas”.
Facebook/Henrique Vieira
Pastor Henrique Vieira é convidado de Breno Altman no 20 MINUTOS desta sexta-feira (21/10)
Vieira explica que atualmente as igrejas que mais crescem no Brasil são as que não pertencem às grandes denominações pentecostais e neopentecostais, como Assembleia de Deus e Igreja Universal do Reino de Deus.
Segundo o pastor, as diversas e heterogêneas igrejas evangélicas são atraentes porque promovem grande capacidade de acolhimento, participação, horizontalidade e protagonismo compartilhado. A militância progressista se ausenta desses espaços e o diálogo se rompe: “falta convivência, territorialidade e uma presença mais massiva de quadros religiosos evangélicos nas fileiras da esquerda”.
Evangelho e o progressismo
Na contramão do ultraconservadorismo, ressalta a expansão de vertentes evangélicas divergentes, que professam, por exemplo, teologia negra, ecoteologia, teologia feminista e da diversidade. Cita a teologia da missão integral, que enfatiza a responsabilidade social e o combate à desigualdade.
Vieira antevê um futuro religioso diferente do momento atual: “e se daqui a 30 anos tivermos um campo evangélico progressista popular em franco crescimento contribuindo com a democracia, o Estado laico, a diversidade e a emancipação do povo? Essa é a minha aposta”.
No contexto eleitoral, Vieira defende que pautas fundamentais não devem ser negociadas e que o progressismo não deve pactuar com o ultraconservadorismo: “dar a mão a determinadas lideranças pode significar ganho eleitoral e um golpe na próxima esquina”.
Defensor da separação entre Estado e Igreja, opina que religiosos devem atuar politicamente a partir da fé, mas não como projeto de poder. Em lugar da atitude conformista diante de uma suposta hegemonia do conservadorismo na religião, prega a disputa transparente por princípios progressistas.