No programa 20 MINUTOS ENTREVISTAS desta quarta-feira (23/03), o jornalista Breno Altman entrevistou João Paulo Rodrigues, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Ele contou que o movimento já está se organizando para as eleições que se aproximam, a partir de três frentes. A primeira estará focada na construção de comitês populares, em parceria com o PT, para cuidar da organização social, debater agendas que devem constar num possível programa mínimo de Lula, refletir sobre o que se reivindicará do ex-presidente, entre outros temas. Já a segunda focará no fortalecimento de candidaturas apoiadas pelo MST ou do próprio MST. E a terceira, relacionada à anterior, diz respeito à construção das próprias campanhas e o combate às fake news.
Rodrigues destacou que o movimento apoiará a candidatura de Lula independentemente de quem forme parte de sua chapa e afirmou que, de momento, “a presença de Geraldo Alckmin (PSB) ainda não é motivo de preocupação”.
“Não sei como a massa vai reagir, mas a partir da base do MST, acho que se vê que o inimigo verdadeiro é Bolsonaro e acho que a possibilidade de criar uma frente progressista vai animar o nosso lado. Acho difícil que a nomeação de Alckmin traga prejuízos. Ele veio, mas não trouxe os seus, não trouxe os bancos, não trouxe o agronegócio, por isso que só a figura dele não gera motivos de preocupação. Ele é apenas uma representação simbólica dos setores conservadores”, defendeu.
Entretanto, o dirigente reconheceu que seria melhor uma candidatura totalmente progressista, que sinalizasse para mais avanços, “mas acho que isso não é possível na situação de golpe em que estamos”.
Ele também ponderou que há um “amadurecimento político” por parte de Lula com relação à política de alianças. “Não há nenhum documento como a Carta ao Povo Brasileiro [texto que consolidou a linha conciliatória da candidatura de 2002 de Lula]”. Ele disse, ainda, confiar na agenda do ex-presidente e em sua capacidade de acirrar a luta de classes durante a campanha presidencial, apesar de admitir que “a esquerda adora uma aliança com setores do capital”.
Programa
Com relação ao programa do ex-presidente, ainda em construção, Rodrigues também demonstrou otimismo. Ressaltou que ainda há divergências sobre o tamanho e nível de radicalidade do programa que os movimentos populares querem apresentar a Lula, mas já coincidem em pontos mínimos, como o fim das privatizações e a reforma agrária.
Segundo o dirigente, o documento será apresentado formalmente em agosto: “pode parecer tarde, mas é porque temos receio de apresentar um programa que não dialogue com a realidade do país”, disse.
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João Paulo Rodrigues foi o entrevistado desta quarta (23/03) do 20 Minutos
“Apresentá-lo tão tarde seria uma jogada de marketing se não tivéssemos Lula à frente da disputa. Ele é o programa. Agora, o texto é algo que depende de mais do que só a nossa vontade de mudar e o que queremos que mude, ele precisa refletir a correlação de forças, o que realmente poderemos mudar. Precisamos ir com calma porque o programa tem que ser para valer, precisa responder às expectativas da classe com um Estado que dê conta de executá-lo”, sublinhou.
Expectativas de um novo governo Lula
“Teremos um governo de mais enfrentamento, de menos conciliação de classe. Mas vamos herdar um Estado desorganizado, com teto de gastos, autonomia do Banco Central… isso vai dificultar os primeiros anos. Vamos passar por momentos de poucos ganhos para a classe trabalhadora, então não vai haver um processo de radicalização da esquerda, mas a nossa economia não permite a conciliação social”, analisou Rodrigues sobre o que se poderá esperar de um eventual novo governo Lula.
Ele reforçou que será necessário desfazer todos os retrocessos executados desde o golpe de 2016 antes de poder avançar em direção a novas conquistas. E, para dificultar ainda mais esse processo, pode ser que Lula, caso eleito, e a esquerda se encontrem em uma situação de minoria no Congresso, e a força das ruas, que ainda está se reconstruindo na opinião do dirigente do MST, não conseguirá sozinha garantir sua governabilidade.
“Ou conseguimos maioria simples no Congresso ou construímos um movimento de massas na campanha, ou os dois. Mas se nada disso acontecer, o governo ficará muito aquém do que queremos. Mas eu acredito na aliança que se está organizando e que haverá uma derrota do bolsonarismo”, concluiu.