Uma década inteira se passou desde as chamadas Jornadas de Junho de 2013, e o programa 20 MINUTOS desta terça-feira (13/06) teve como pauta a análise daquele período e suas consequências sócio-políticas para o Brasil.
A convidada desta edição Maria Caramez Carlotto, socióloga formada pela Universidade de São Paulo (USP) e professora da Universidade Federal do ABC (UFABC), além de integrante da bancada do programa OUTUBRO, todas as segundas-feiras, também no canal de YouTube de Opera Mundi.
Carlotto é uma das organizadoras do livro “Junho de 2013: a rebelião fantasma”, que está sendo lançado pela Editora Boitempo e que traz textos de Breno Altman (também organizador), Camila Rocha, Jones Manoel, Lucas Monteiro, Mateus Mendes, Paula Nunes, Raquel Rolnik, Roberto Andrés e Vladimir Safatle, além do prólogo de Dilma Rousseff, que era Presidente da República naquele período.
Para a socióloga, uma das principais questões a se levantar ao analisar as Jornadas de Junho de 2013 é lembrar que, apesar de ter se reproduzido em quase todas as capitais brasileiras, ela foi alavancada por diferentes aspectos em cada cidade, e até hoje desperta diferentes recordações.
“Há diferenças regionais importantes, inclusive saiu recentemente uma pesquisa Ipec que reflete um pouco isso, a percepção sobre aqueles eventos é muito diferente em cada região do país: no Nordeste há uma avaliação mais negativa, no Sul mais positiva. Claro que isso não reflete o evento como um todo, é só a percepção sobre ele, mas serve para mostrar essas diferenças”, avaliou a cientista social.
O apresentador Breno Altman perguntou à convidada se ela achava que as Jornadas de Junho teriam sido a “primavera árabe” brasileira, se era possível compará-las a outras “revoluções coloridas” que aconteceram em outros lugares do mundo nos últimos anos, e se o movimento foi parte de uma operação de guerra híbrida promovida por algum país estrangeiro.
A socióloga acha que “se isso significa dizer que elas não tiveram organicidade em nenhum dos seus momentos acho que não é correta essa interpretação”.
“Qual é a ideia em ler Junho de 2013 na chave da guerra híbrida? Definir que toda a agência política seria externa. Então, as pessoas que participaram, os movimentos que se engajaram, a juventude periférica que foi às ruas apostando numa nova forma de ativismo, todos esses setores teriam sido simplesmente manipulados por agências externas. Acho que é uma leitura muito pobre”, comentou Carlotto.
No entanto, a socióloga também critica a narrativa de quem acredita que “tudo o que se viu nas Jornadas de Junho foi orgânico”.
“Havia uma intensificação da crise econômica [mundial], uma intensificação dos conflitos políticos, com um declínio evidente da hegemonia norte-americana, o que alimentava um maior ativismo do Estado norte-americano. Então, achar que não houve nenhuma ação dos Estados Unidos para aproveitar aquela situação, que não houve agências externas operando, também é muito ingênuo. Basta ver o Movimento Brasil Livre (MBL), que se formou naquele momento”, analisou a acadêmica.