Dando continuidade à série de entrevistas com os autores do livro “Junho de 2013: a rebelião fantasma”, organizado por Breno Altman e Maria Carlotto e lançado recentemente pela Editora Boitempo, o programa 20 MINUTOS desta quarta-feira (14/06) conversou com o acadêmico Mateus Mendes.
Bacharel em Geografia formado pela Universidade Federal Fluminense (UFF), mestre em ciência política pela Unirio e doutorando em Economia Política Internacional pela Universidade do Rio de Janeiro (UFRJ), Mendes é autor do livro “Guerra híbrida e neogolpismo no Brasil: geopolítica e luta de classes no Brasil (2013-2018)”, lançado pela Editora Expressão Popular.
Segundo o acadêmico, “as manifestações em junho de 2013 foram multiplicadas entre o dia 13 [quando houve a primeira grande marcha em São Paulo do Movimento Passe Livre, MPL] e o dia 17 [primeira marcha que se reproduziu em várias capitais]. O movimento já existia, mas esse crescimento vertiginoso não foi fruto do acaso. Não é crível que, do nada, centenas de milhares de pessoas resolveram ir às ruas protestar porque se sensibilizaram pela violência policial contra uma manifestação”.
“As evidências [de que houve uma operação de Guerra híbrida nas Jornadas de Junho] começam pela mudança de chave. A mídia, por exemplo, muda completamente a sua abordagem. A Folha de São Paulo, que no dia 13 pedia mais repressão contra as manifestações, no dia 14 está reclamando da repressão. Outro aspecto foi a mudança de algumas figuras ligadas a think tanks de ultraliberais, que viram ali a oportunidade de botar o seu bloco na rua. Se nós mapearmos, veremos que eles são parte de entidades ligadas ao circuito USAid-NED, que são agências do governo dos Estados Unidos que financiam grupos que trabalham justamente em operações de guerra ideológica”.
Mendes também considera que “a direita não tinha um movimento de massas em junho de 2013, esta se reorganizando, os think tanks ultraliberais estava se renovando, e realmente, no começo das jornadas eles não estavam vindo com força, os atos deles eram pequenos. Mas também eram pequenos os atos do MPL. Foi a mídia, através de uma série de palavras e símbolos, que forjou uma indignação. Na edição de 14 de junho, a Folha de São Paulo publicou uma foto de uma mulher branca apanhando de cacetete de um policial preto. Essa imagem, em um país machista e racista como o nosso, é muito potente. O mesmo aconteceu na cobertura d’O Globo: antes as palavras ‘vandalismo’ e ‘caos’ eram associadas aos manifestantes, e passaram a ser usadas para se referir à violência policial”.
Mendes é um dos autores que participa do livro “Junho de 2013: a rebelião fantasma”, junto com Camila Rocha, Jones Manoel, Lucas Monteiro, Paula Nunes, Raquel Rolnik, Roberto Andrés e Vladimir Safatle, entre outros. O prólogo da obra é de Dilma Rousseff, que era Presidente da República naquele período.