O programa 20 MINUTOS desta segunda-feira (1906) continua a série de entrevistar que analisa os dez anos das Jornadas de Junho de 2013, em uma conversa com o professor e filósofo Rodrigo Nunes, mestre em filosofia pela PUC do Rio Grande do Sul e doutor pela Universidade de Londres, atualmente é professor na PUC do Rio de Janeiro, além de escritor e ensaísta, autor do livro “Do transe à vertigem: ensaios sobre bolsonarismo e um mundo em transição”, publicado pela editora Ubu, a mesma pela qual também está lançando seu novo livro, “Nem horizontal, nem vertical”.
Nesta entrevista com Altman, Nunes salienta que “junho de 2013 é um momento que exige uma resposta, mas ao mesmo tempo é um tema no qual a pergunta não está clara. Diferentes atores políticos vão buscar definir que pergunta é essa, para dizer, então, quais são as respostas”.

“Você tem duas interpretações que se tornaram dominantes, uma delas é a dos meios de comunicação, que também é a interpretação da direita naquele momento, tanto dos partidos tradicionais quanto daquela nova direita que se constituiu justamente no contexto daquele período, e que vai diz que esse foi um movimento de pessoas que estavam insatisfeitas com a corrupção, leia-se: governo do PT, que estavam insatisfeitas com uma baixa qualidade da democracia e de irresponsabilidade institucional que poderia ser resumida no problema da corrupção, e para essa interpretação a Lava Jato teria sido a resposta”, analisa o filósofo.
Nunes também afirma que “a outra interpretação, que é a visão do PT e de uma parcela expressiva da esquerda, que é basicamente igual à primeira interpretação, mas que acrescenta o fato de que, na verdade, o incômodo maior que as pessoas estavam expressando ali era contra os governos petistas, que as pessoas queriam mesmo não era a luta contra a corrupção, era derrubar o governo”.
Ao comentar sobre a horizontalidade ou verticalidade presentes nos movimentos sociais nos últimos tempos, Nunes começa ressaltando que “a maneira como a horizontalidade foi frequentemente compreendida falsifica a experiência verdadeira, que nunca deixa de possuir, também, seus elementos e seus momentos de verticalidade”.
“Uma das primeiras confusões que eu acho que nós precisamos desfazer é a de uma tendência da história do debate sobre a organização em pensar que o objetivo seria responder, em primeiro lugar, qual é a forma ideal de organização, e em segundo lugar, estabelecer que essa forma ideal seria a de uma organização singular. A maneira como eu proponho rever essa ideia no livro [‘Nem horizontal nem vertical’] é a de que, na verdade, a organização está sempre dada em uma ecologia de formas de ação diferentes”, esclareceu.
Nunes também usa um exemplo da Revolução Russa para explicar seu ponto de vista. “A gente pode dizer que o Partido Bolchevique organizou o golpe que derrubou o governo provisório na Rússia [em 1917], mas o Partido Bolchevique não estava organizando o que estava acontecendo no campo, pelo contrário, se ele pudesse organizar o que estava acontecendo no campo, a tomada de terras pelos camponeses, por exemplo, ele teria feito de outra maneira”, frisou.