No programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta segunda-feira (05/07), o jornalista Breno Altman entrevistou o autor do livro Os militares e a crise brasileira (Editora Alameda), João Roberto Martins Filho, sobre a tutela militar do Estado.
Segundo o professor titular de ciência política da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), os militares “têm um projeto de poder” de se inserir “de forma qualitativa” no Estado que começou em novembro de 2014, “quando [Jair] Bolsonaro foi reeleito deputado federal e participou da formação dos Agulhas Negras”.
“Os militares nunca aceitaram totalmente o controle civil. Sempre tiveram poder político, mas, entre os governos de Fernando Henrique Cardoso e Dilma Rousseff, pensávamos que haviam entrado em um processo de gradual aceitação do poder civil. A transição começou no governo Temer, quando foi criado o Gabinete de Segurança Institucional comandado pelo único general que se manifestou contra o Relatório Nacional da Comissão da Verdade”, relatou o professor.
Somado a isso, Martins Filho explicou que as Forças Armadas mudaram sua mentalidade, deixando de apegar-se à ideologia do nacional desenvolvimentismo, aproximando-se do neoliberalismo norte-americano, “por isso apoiaram a ideologia de Bolsonaro e chegaram ao poder”.
‘Lula e Dilma perderam a oportunidade de realizar reformas’
Para o professor, houve uma ilusão com relação ao compromisso democrático das Forças Armadas por parte dos governos petistas que, em vez de combater a tutela militar do Estado, deram mais poder aos militares.
“Houve erros. Lula e Dilma perderam a oportunidade de realizar reformas. Pelo contrário. Principalmente no governo Dilma, os generais ganharam muito poder, com operações em comunidades do Rio de Janeiro e a Minustah [ Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti], por exemplo”, argumentou Martins Filho.
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Autor de ‘Os militares e a crise brasileira’, Martins Filho aponta que setor nunca aceitou o controle civil; veja vídeo na íntegra
De acordo com ele, pensava-se que a Minustah serviria para que os militares voltassem a se dedicar à obrigação real deles, “de defesa e promoção da paz”, mas só fortaleceu o objetivo de se tornarem participantes ativos da política brasileira.
A terceira via
Martins Filho pondera, entretanto, que o objetivo dos militares sempre foi participar do poder nos bastidores, mas que Bolsonaro nunca permitiu a descrição, !sempre que eles quiseram fazer algo por baixo dos panos, Bolsonaro tirava o pano”.
Por isso, ainda que o professor não acredite que o presidente tenha perdido apoio entre sua base militar, “que não deu claros sinais de dissidência”, ele enfatizou que os militares muito provavelmente apoiarão uma terceira via nas eleições de 2022.
“Não faz sentido eles quererem manter Bolsonaro. Bolsonaro já deu muito trabalho para eles. E um golpe militar acho que também não compensa porque o Brasil viraria um país pária. A melhor hipótese para os militares é de que ganhe um governo conservador”, reforçou.
Martins Filho discorreu: “Bolsonaro mostrou que não seria passivo no governo, atrapalhou o projeto deles de ter um governo sombra. Ele inclusive se posicionou contra as Forças Armadas em vários aspectos”.
O professor ainda relembrou que, desde que passaram a formar parte do governo, caiu a popularidade das Forças Armadas com a população; Então, “querem voltar ao Palácio do Planalto em plena forma, apoiando um líder que lhes permita voltar a cargos chaves mantendo a aparência de que não estão no governo”.