O programa 20 MINUTOS desta segunda-feira (31/07) entrevistou a professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Márcia Jacomini.
Em conversa com o apresentador Haroldo Ceravolo Sereza, Jacomini abordou os problemas criados no sistema educacional brasileiro pelo Novo Ensino Médio, sistema implementado no governo de Michel Temer, em 2018, e mantido durante os quatro anos da gestão de Jair Bolsonaro.
Segundo a especialista, existe um debate entre os profissionais e estudiosos da educação no Brasil “sobre se é possível fazer uma ‘reforma da reforma’ (em alusão à reforma de Temer que implementou o Novo Ensino Médio) ou se é melhor revogar (o atual modelo)”, e nesse cenário, ela se coloca como “parte do grupo que defende a revogação”.

“Essa reforma (do governo Temer) não tem conserto, porque ela parte de uma concepção equivocada de formação da educação básica. Ela cria uma ruptura com a concepção que nós tínhamos de que a formação em educação básica compreende o período de 0 a 17 anos, ou seja, até o final do ensino médio”, explicou a professora.
Sobre a proposta de consulta lançada pelo Governo Lula, Jacomini considera que “é correto o governo promover uma consulta, mas acho que ela está sendo muito limitada”.
Unifesp
Márcia Jacomini participou de livro lançado pela Editora Alameda que faz diagnóstico da educação paulista no período entre 1995 a 2018
“A tecnologia pode ser usada para fazer uma consulta, mas isso é muito limitado. Uma consulta bem feita pressupõe o seguinte: as escolas discutirem com as comunidades, analisarem, estudarem a proposta, entenderem exatamente o que os estudantes querem, o que a comunidade quer, o que os professores querem… ou seja, isso é uma consulta. Se a consulta é feita a partir de um questionário onde só se pode responder ‘sim’ ou ‘não’ o resultado já é insuficiente, e pode ser induzido, inclusive”, frisou a especialista.
Jacomini acredita que é preciso “nós podemos e devemos pensar em uma reforma do ensino médio, mas partindo de uma base comum. Eu acho que é inegociável a questão das 2,4 mil horas (total de horas destinadas às disciplinas regulares), esse é o mínimo nos três anos de ensino médio para essa formação básica, e aí nós podemos debater sobre como ampliar a permanência do aluno na escola com aprofundamento”.
A professora também criticou o governo estadual de São Paulo, onde o governador Tarcísio de Freitas vem promovendo um aprofundamento do modelo no qual se baseou o projeto do Novo Ensino Médio, com mudanças realizadas especialmente no currículo das escolas.
“A revolução na educação precisa partir do investimento. Não se revoluciona um sistema educacional pelo currículo. Você revoluciona quando faz investimento, quando constrói escolas, quando constrói infraestrutura com qualidade, quando você coloca todos os estudantes na escola, e nós temos problemas ainda com isso”, comentou.