O programa 20 MINUTOS desta quarta-feira (01/03) teve um convidado ilustre: o ex-governador do Paraná, Roberto Requião, que também foi senador por esse estado, além de prefeito de Curitiba.
Referente da esquerda desenvolvimentista brasileira, o entrevistado conversou com o jornalista Breno Altman, fundador de Opera Mundi, sobre os desafios do projeto de reindustrialização do Brasil apresentados pelo Governo Lula.
Na entrevista, Requião criticou algumas das primeiras medidas econômicas do atual governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, especialmente as tomadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mas deixou claro que torce pelo sucesso do atual governo e do seu programa de governo, e ressaltou que “considero esse o meu governo, que eu trabalhei em campanha para eleger, então eu quero que dê certo, por isso critico o que acho que não está indo na direção do que nós esperávamos”.
Nesse sentido, Requião defende que o governo Lula “tem que montar um projeto novo [de desenvolvimento], porque o que nós estamos vendo agora é o liberalismo econômico ressurgindo e querendo comandar tudo”.
O convidado concordou com a reflexão de Altman sobre a dificuldade da esquerda brasileira em formular um projeto nacional de desenvolvimento, mas recordou que “nos Anos 80 nós tínhamos um projeto nacional de desenvolvimento no velho MDB, um documento chamado ‘Esperança e Mudança’, que precisaria de algumas modificações profundas, pelas transformações que foram ocorrendo no mundo, mas que foi bastante adequado durante aquele momento do país”.
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Segundo Requião, Lula precisa mobilizar o Brasil em torno de um novo projeto nacional de desenvolvimento
“Atualmente, nós não temos projeto nenhum [de desenvolvimento]. O nosso projeto é aparar arestas violentas demais do liberalismo econômico, para perpetuá-lo definitivamente”, completou.
Segundo Requião, o sucesso do governo Lula dependerá de recuperar a soberania sobre empresas estratégicas como a Petrobras e a Eletrobras, sobre a política financeira, através do controle do Banco Central, e os direitos dos trabalhadores, a partir de recuperar os direitos da antiga Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) em uma versão mais atualizada e adaptada à realidade atual, em vez do atual marco legal de negação dos direitos aos trabalhadores, legado por Temer e Bolsonaro.
“Não há possibilidade de sucesso no nosso governo sem a correção dessa boçalidade que é a independência do Banco Central, [que agora está] nas mãos dos detentores da dívida pública, sem uma Petrobras voltada aos interesses nacionais, a Eletrobras nãos mãos dos brasileiros e a CLT renovada, não da forma que era, tinha muitos erros na CLT, mas os erros não foram corrigidos, o direito foi eliminado”, analisou Requião, que também enfatizou que esses foram os temas que levaram “ao impeachment da Dilma e à prisão do Lula”, na década passada.
Diante de um comentário da audiência que o classificava como “marxista”, o ex-governador esclareceu: “perdão, mas eu sou marxólogo, eu estudei Marx e a economia, assim como estudei todos os processos de desenvolvimento do mundo, não é à toa que eu fui presidente do Parlamento Europeu Latino-Americano, vendo o desastre que foi o liberalismo econômico, selvagem, o que aconteceu com a Grécia e tudo mais”.