O programa 20 MINUTOS desta segunda-feira (12/06) recebeu como convidado o médico e cientista Miguel Nicolelis, primeiro cientista a receber no mesmo ano dois prêmios dos institutos nacionais de saúde dos Estados Unidos e também o primeiro brasileiro a ter um artigo publicado na capa da revista Science, uma das mais importantes do seu segmento no mundo.
O apresentador Breno Altman conversou com Nicolelis sobre inteligência artificial, as novidades a respeito desse tipo de tecnologia e suas consequências para a sociedade.
Em sua primeira análise, o cientista brasileiro citou um artigo recente do filósofo norte-americano Noam Chomsky para explicar seu ponto de vista a respeito do que, segundo ele, se convencionou chamar de “inteligência artificial”, mas que ele considera há anos que “não é inteligente e nem é artificial” – e se disse satisfeito ao saber que Chomsky, em seu artigo concorda com boa parte do seu ponto de vista.
“Esse é um dos maiores produtos de marketing criados na história da humanidade, nos Anos 50, quando um grupo de matemáticos, estatísticos e cientistas da computação precisavam convencer o Departamento de Defesa norte-americano, o Pentágono, que eles poderiam criar máquinas inteligentes, daí esse nome (inteligência artificial) foi criado, e virou quase que uma religião, eu hoje chamo de um culto, tentando transmitir o credo de que nós seres humanos vamos ser suplantados por coisas que nós seres humanos estamos criando, máquinas que vão saber exibir comportamentos inteligentes”, afirmou.
Para Nicolelis, “a inteligência é uma capacidade de organismos. Ela depende de um pensamento analógico, não digital. Ela não pode ser gerada por equipamentos digitais, porque entre zero e um, o cérebro humano e de qualquer animal preenche qualquer espaço entre esse zero e esse um, que é algo que um computador não consegue fazer.
Segundo o cientista, “
Nicolelis também acredita que “todos esses desenvolvimentos tecnológicos fazem parte de uma ideologia de substituição do trabalho humano e desvalorização do trabalho humano. É o que está por trás do conceito de big tech, que se baseia na utopia de produzir lucros ilimitados com custo zero. Você tem lucros ilimitados quando não tem custo, e o maior custo da produção, como todos nós sabemos, é o trabalho humano”.
“Por isso que eu acho que existe uma nova visão do mundo que vai além do que o nosso querido Marx sugeriu, porque não são só os meios de produção que importam, os meios de produção ou já estão todos automatizados ou serão em breve. O que importa agora é esse embate da informação com o conhecimento e o real papel humano no mundo, porque ele está sendo ameaçado de vez, profundamente, neste momento”, alertou o cientista.