O jornalista, sociólogo e tradutor brasileiro Muniz Sodré foi o convidado do programa 20 Minutos em uma entrevista com Breno Altman nesta quarta-feira (07/06).
Com diversos livros e estudos sobre a questão racial, em especial o recentemente lançado O fascismo da cor: Uma radiografia do racismo nacional (Editora Vozes), Sodré começou a entrevista explicando a diferença entre racismo estrutural e institucional, tese que defende na obra.
“Eu tenho uma visão de estrutura mais rígida do que o conceito aplicado ao racismo. Para mim, a escravidão foi estrutural porque estava na economia, política, nas relações intersubjetivas e jurídicas, e isso formava uma estrutura. Mas essa estrutura escravista acabou quando houve a abolição, apesar do racismo não ter acabado. Antes, o racismo era de segregação física e espacial, mas depois da abolição ainda era preciso 'manter o negro em seu lugar', assim o racismo se transforma pela dominação”, explica o sociólogo, entendendo assim que o racismo institucional é o legado cultural do racismo estrutural do período da escravidão.
Questionado por Altman se as experiências racistas na África do Sul e nos Estados Unidos são diferentes do Brasil, Sodré confirma que “sim” e que “não é o mesmo tipo de racismo”.
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Jornalista, sociólogo e tradutor brasileiro Muniz Sodré foi convidado de Breno Altman no 20 Minutos desta quarta-feira (07/06)
“Nos Estados Unidos e na África do Sul o racismo é estrutural. O racismo norte-americano foi instituído por leis, além do sistema social. Essas leis foram intensas e claras no sul dos EUA por um aparato policial violento fora do sistema escravista, e que não foram por motivos econômicos”, explica.
“Já na África do Sul, o estado instituiu de forma legal, política e jurídica o Apartheid. Aqui no Brasil não houve isso, porque quando o racismo é estrutural fica bem claro quem é negro e quem é branco. Aqui a regra é a de negação, o Estado nega e as classes dirigentes constroem um discurso negacionista sobre o racismo: 'Eu não sou racista, mas eu quero que o negro fique em seu lugar'.
Nessa linha, o sociólogo aponta para formas de combater esse racismo institucional no Brasil.
“Políticas de cotas não são suficientes, mas são um primeiro passo. Se o problema é institucional, a luta precisa ser institucional: dentro da família, e principalmente na escola primária, com professores reeducados e formados, com bibliografia especial para crianças e jovens até 12 anos. Mas isso é difícil uma vez que as ideias fascistas contaminaram as famílias por via das ideias conservadoras da igreja”, completa.