No programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta quarta-feira (07/07), o jornalista Breno Altman entrevistou João Paulo Rodrigues, integrante da direção central do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e representante da organização do Comitê Fora Bolsonaro sobre as mobilizações que vêm acontecendo desde 29 de maio no país.
Para o dirigente, as manifestações começaram a ocorrer no momento certo, de certa estabilidade da pandemia, tendo como estopim a CPI da Pandemia.
“Desde o começo estavam tendo manifestações não presenciais, panelaços, carreatas, gerando um caldo de luta muito bom. Depois houve a liberação de Lula e a restituição dos seus direitos eleitorais, que também enfraqueceram a Lava-Jato e mostraram que houve realmente um golpe. Em terceiro lugar veio a CPI, que mostrou que a ausência de vacina não era por acaso. Esses foram os motores da mobilização política”, explicou.
Rodrigues reforçou que o retorno de Lula traz esperança e a CPI mostra que “é possível derrubar Bolsonaro” antes de 2022. No entanto, para que isso ocorra, a militância precisa ir além: “O país tem que parar”.
“Estamos construindo uma paralização nacional para início de agosto. Não queremos chamar de greve porque não se trata do trabalhador negociando com o patrão. Temos milhões de desempregados, essas pessoas vão fazer greve contra quem? Temos que envolver o setor dos transportes e as categorias do comércio para fechar tudo”, revelou.
Na opinião do representante do Comitê Fora Bolsonaro, a esquerda brasileira tem que fazer demonstrações de força para chegar com legitimidade às eleições de 2022 e deslocar à esquerda setores centristas da população.
“Ou plantamos lutas, ou teremos que fazer acordos desnecessários para ampliar nossa força política em 2022”, enfatizou.
Frente ‘amplíssima’
Diante da reação progressista ao presidente, a oposição de direita está convocando suas próprias manifestações, separadas do Fora Bolsonaro. Rodrigues avaliou esse cenário: “Precisamos de uma frente amplíssima de Fora Bolsonaro, mas não é necessário que nos mobilizemos juntos, porque não somos da mesma família. Cada um faz a sua luta, mas com o mesmo objetivo”.
Reprodução
Para Rodrigues, as manifestações contra Bolsonaro começaram a ocorrer no momento certo
O dirigente do MST fez questão de ressaltar que a Frente Ampla à qual se refere é apenas política, “de base”, não eleitoral.
“Temos que ganhar a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), temos que ganhar as igrejas. Precisamos construir uma frente amplíssima em termos de força política”, ponderou.
Até porque, na opinião de Rodrigues, a direita não se uniria a manifestações de esquerda, nem para tentar se apropriar delas, como ocorreu em 2013, “porque não acho que eles vão apostar todas as suas fichas em derrubar Bolsonaro sem ter uma terceira via”.
24J
A próxima manifestação está marcada para o dia 24 de julho. Rodrigues não acha que ela será maior do que as anteriores, “porque não há um fator novo, nem na política, nem na economia, tampouco há tantas pessoas a mais vacinadas para aumentar a mobilização popular e enquadrar o Congresso com a nossa força”.
Ele ressaltou, contudo, a importância de seguir indo às ruas, “porque se a gente não ocupar esse espaço, a direita vai”. Para ele, o objetivo do novo protesto deve ser realizar mais atividades culturais e estimular que se levantem novas bandeiras.
“Precisamos deixar o ato mais leve, mais colorido, com a presença de outros setores. A nossa bandeira é a vermelha, mas precisamos que haja outras: bandeira de universidades, de torcidas de time de futebol… Não pode ser uma manifestação só com as bandeiras de organizações clássicas da esquerda”, argumentou.