No programa 20 MINUTOS desta segunda-feira (24/02) o mais longevo dos presidentes do Partido dos Trabalhadores e atual deputado federal por São Paulo, Rui Falcão, falou em entrevista a Breno Altman sobre a necessidade de se convocar uma Assembleia Constituinte para resgatar o legado de Lula.
Defendeu que processo constituinte deveria ser impulsionado por um novo governo de esquerda, “para que se possa retomar um legado que foi desmontado”. A Constituinte, para ele, deveria ser exclusiva, para evitar que os parlamentares a contaminem com seus próprios interesses.
Assista à entrevista na íntegra:
Rui Falcão também afirmou ser a favor da formação de uma frente de esquerda. Ele não desconsiderou, contudo, trazer setores do centro para essa frente: “Mas em vez de a esquerda se dirigir para o centro, o centro deve ser puxado para a esquerda”.
Nesse sentido, Rui Falcão avaliou como positiva a estratégia de Fernando Haddad, “bloco na rua”, para retomar o contato com a militância, mas reforçou que a prioridade do PT deveria visar a aliança com outras forças políticas progressistas, “sem preocupação inicial com candidaturas”, mas lutando pela anulação das sentenças contra Lula e pelo seu direito de se candidatar.
Também foi enfático em favor de um programa de reformas estruturais a ser construído de comum acordo pelos partidos de esquerda, de caráter “democrático, anti-monopolista e anti-imperialista”.
Trajetória do PT
Rui Falcão relembrou o 5o Encontro Nacional do PT, em 1987, quando, segundo ele, o partido definiu por primeira vez quais eram as alianças necessárias e o programa que poderia unificá-las.
Ao percorrer a história do partido, destacou a mudança política ocorrida a partir de 1995 e consolidada com a Carta ao Povo Brasileiro, de 2002, que levaram à ampliação dessas alianças e à moderação do programa, ressaltando que essa orientação permitiu resultados eleitorais vitoriosos, mas com danos estratégicos.
“O 5º Encontro Nacional afirmava que o poder não apenas se toma, se constrói. Ser governo para ser poder. Mas fomos governo sem procurar sem poder. Atuamos dentro do aparato institucional, mas não atuamos para constituir uma nova ordem. Nos entregamos à institucionalidade sem realizar rupturas”, ponderou.
Golpe de 2016
Segundo Rui Falcão, principalmente depois do Golpe de 2016 se tornou necessário para o PT rever sua estratégia. Para ele, o PT se iludiu com o compromisso democrático da burguesia e das Forças Armadas: “a gente achava que a democracia ia sempre num caminho linear, sem retrocessos”.
Somado a isso, explicou que o PT abandonou o trabalho de base, afastando-se dos movimentos sociais. “Como nós nos dedicamos muito a governar e pouco a realizar trabalho de base, quando o golpe veio a resistência foi quase nula”, afirmou.
“Hoje vivemos sob uma tutela militar do Estado. Como parte da ilusão que vivíamos de que a democracia era algo já firme no nosso país, reaparelhamos as Forças Armadas [durante os governos do PT], mas sem retirar todos os valores imbricados desde o golpe de 1964. O nosso erro maior foi pensar que vivemos num estado neutro, não num estado de classe”, concluiu.