No programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta sexta-feira (18/02), o jornalista Breno Altman entrevistou o deputado federal por São Paulo Orlando Silva, um dos principais dirigentes do Partido Comunista do Brasil (PDdoB).
Ele analisou o cenário eleitoral e possíveis estratégias para a esquerda, considerando que o cenário de polarização entre Lula e Bolsonaro “está consolidado”.
“Lula está jogando um jogo largo, até demais, e esse jogo deixa pouco espaço para a produção de um nome novo a estas alturas. Sergio Moro, por exemplo, terá dificuldade de conseguir palanques estaduais. João Dória lida com uma rejeição que é até injusta considerando o que ele conseguiu de vacina para São Paulo. E Ciro ficou sem espaço”, ponderou.
Apesar disso, “o jogo não está jogado”. Silva destacou a importância de se disputar as eleições com firmeza e seriedade, sem arrogância, até porque Bolsonaro possui uma base eleitoral que se mantém apesar dos números que mostram o desastre que tem sido seu governo e os constantes ataques da mídia.
“Existe um parcela da sociedade brasileira encapsulada e nutrida pelas redes sociais que é o que o sustenta. Ele também está se alimentando das conquistas do auxílio emergencial, que é proposta eleitoreira. Por sorte, não vai ter o efeito que ele pensa que vai ter porque a população está percebendo que da mesma forma que ele dá, ele pode tirar. Se fosse uma proposta permanente, ele não teria desmanchado o Bolsa Família, nem teria restringido o orçamento pro Auxílio Brasil, que deixa tantas famílias de fora do programa”, argumentou.
O deputado também alertou para a baixa probabilidade de o campo progressista acumular os votos do centro. Parte de seu eleitorado, “que possui um resquício de sentimento democrático, irreconciliável com Bolsonaro”, poderia se vincular à candidatura de Lula, segundo ele, mas seria um ganho de Lula, não da esquerda.
“E se a gente pegar aquela pessoa que vota no Moro, que é o pessoal anti-PT, mas frustrado com o Bolsonaro, com o risco de desalento, essa pessoa acho que não vai aparecer para votar. Ela até poderia votar no Bolsonaro, mas seria um voto envergonhado, acho mais provável que não participasse do processo”, discorreu.
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Deputado federal afirmou que votará em Lula mesmo com Alckmin na chapa
‘Água e óleo’
Aliás, poderia ocorrer que nem mesmo a nomeação de Geraldo Alckmin para a vice-Presidência atraia os votos do centro: “Eu vou votar no Lula independentemente de quem for o vice, mas minha impressão é de que os personagens são como água e óleo. Esse argumento de sinalizar para o mercado… todos sabem como Lula opera. Acho que seria melhor uma candidatura com mais nitidez, mais capacidade de mobilização. Acho que principalmente a população de São Paulo se desilude. Essa associação tem cara de segundo turno para mim, que é quando o apoio de Alckmin teria um efeito importante”.
Silva também alertou para o fato de que o tiro poderia sair pela culatra e a criação de uma aliança que, pelo menos em teoria, juntasse todas as forças pró-sistema, acabaria por fortalecer o discurso antissistema de Bolsonaro, que foi o que o elegeu em 2018.
“Bolsonaro vai usar esse discurso, então a gente não pode subir na tamanca. Vamos ter que garantir que a lógica nacional se reproduza nos estados em alguma medida, sem contradições, porque estamos diante do reposicionamento de muita gente”, refletiu.
Por outro lado, Alckmin formando parte da chapa presidencial abriria caminho para a esquerda levar o governo de São Paulo. Atualmente, o ex-tucano encontra-se em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, seguido por Fernando Haddad, Márcio França e Guilherme Boulos, “isso é muito relevante, temos que ter inteligência para operar esse cenário”.
Federação
Como estratégia para o pleito que se aproxima, Silva defendeu a criação de uma federação, até por ter sido um dos articuladores da aprovação do mecanismo, que une partidos em uma única agrupação durante, no mínimo, quatro anos.
“Acho que é um instituto muito importante, porque o problema de uma coligação é que o PT podia se juntar numa chapa com o DEM e essa aliança acabava um dia depois da eleição. Não é uma coisa fácil sustentar coligações, que são pontuais ou restritas a períodos eleitorais”, afirmou.
Para ele, as federações são um passo em direção à criação de uniões até permanentes entre partidos de atuações semelhantes, como o PT, o PCdoB e mesmo o PV, seguindo os moldes do que é hoje a Frente Ampla do Uruguai ou a Unidas Podemos, da Espanha. O deputado descartou, porém, o PSOL como membro de uma possível federação, afirmando que a legenda, por ter nascido de ex-petistas, quer seguir seu rumo, de modo que poderia preferir aliar-se a partidos como Rede.