Por que Julian Assange ainda está preso? Quem respondeu a pergunta foi Sara Vivacqua, advogada brasileira atuante no Reino Unido, onde o fundador do WikiLeaks está detido. A conversa ocorreu no programa 20 MINUTOS desta quinta-feira (17/08).
O fundador do Wikileaks está preso em Londres desde 2019 e já são 10 anos desde que o jornalista australiano divulgou documentos classificados como secretos pelo governo norte-americano. Nos papéis, haviam informações que revelavam crimes de guerra cometidos pelos Estados Unidos no Afeganistão e Iraque.
A possível extradição de Assange é julgada pelo Justiça britânica, que já deu a primeira autorização para que seja enviado aos Estados Unidos. Lá, ele pode pegar até 175 anos de detenção.
Para Vivacqua, os Estados Unidos “perseguem” Assange pois a divulgação de tais documentos tiveram um efeito contra o país. Por exemplo, arquivos sobre a prisão de Guantánamo conseguiram “desmontar” o que era de fato essa detenção. “Isso por que os advogados de defesa, que inclusive foram testemunhas no julgamento do Assange, não tinham acesso aos nosso clientes, pois existiam inúmeras barreiras legais que impossibilitavam. Não sequer sabíamos quem estava em Guantánamo Bay”, disse.
Segundo a advogada, essa publicação do Wikileaks permitiu descobrir mais sobre a prisão, incluindo que haviam crianças, idosos e pessoas que nunca tinham sido judiciadas. “Aliás, a maioria das pessoas não eram terroristas, eram moeda de troca”, afirmou Vivacqua.
“As divulgações de Assange tiram do anonimato os horrores da guerra e as vítimas que nunca serão faladas da guerra. E isso é muito importante, essa memória para as famílias que ficam. […] Assange falou em tempo real da história do nosso tempo. Isso é aterrorizante para os Estados Unidos”, afirmou ela, apontando que o episódio em que o jornalista é de fato perseguido começa em 2017, quando é publicado os métodos da CIA de espionagem em massa.
Vivacqua disse que a CIA persegue o fundador do Wikileaks, pois, segundo ela, é “importante para os Estados Unidos que o Assange seja extraditado, pois vai se sedimentar o lawfare a nível geopolítico norte-americano”.
Isso, para a advogada, abre um precedente para que outros países peçam extradição de jornalistas investigativos ao redor do mundo: “estamos falando aqui que será a morte do jornalismo investigativo de segurança nacional. Nós vamos selar a inexistência de saber o que os Estados fazem em segredo”.
Atualmente, há dois pilares na defesa do Assange, da ação jurídica e da opinião pública, da qual Vivacqua faz parte. Para ela, agora, o ato de maior importância é de “intervenção política de alto nível“, que seja de presidentes, parlamentares e afins.
“Este ato é importante porque a postura europeia e norte-americana é dizer que o Assange é um problema para a Corte britânica. Mas não, pois não se trata de um processo legal, ninguém cometeu crime. Aqui se trata de uma extradição política que vai contra todos os tratados internacionais”, disse.