O convidado do programa 20 MINUTOS desta sexta-feira (21/04) foi o economista Ladislau Dowbor, formado em Economia Política pela Universidade de Lausanne (Suíça), com mestrado e doutorado em Ciências Econômicas pela Escola Central de Planejamento e Estatística de Varsóvia (Polônia).
Dowbor é um dos principais estudiosos do sistema financeiro brasileiro, com mais de quarenta livros publicados sobre o tema. Por isso, o programa desta sexta, apresentado pelo jornalista Haroldo Ceravolo Sereza, chefe de redação de Opera Mundi, conversou com ele sobre o projeto de novo arcabouço fiscal do ministro Fernando Haddad e as reações que ele tem despertado em diferentes setores.
Segundo o economista, “esta proposta (de Haddad) mantém os privilégios do sistema financeiro. Nós estamos em um momento de posicionamento de um governo que quer orientar os investimentos para gerar desenvolvimento e um sistema financeiro que se acostumou a drenar (esses investimentos). Lembrando que esse sistema existe desde 1995, e foi se fortalecendo desde então, e quando a Dilma tentou enfrentar isso, em 2013, começou todo o processo que terminou no golpe (de 2016)”.
“O central da proposta (do Haddad) deveria ser orientar a economia para gerar o bem-estar das famílias. É mais complicado que isso, não é uma simplificação, mas em resumo, a questão é que quando você faz com que cheguem mais recursos às mãos das famílias elas passam a comprar mais, o que dinamiza (a economia) do lado da demanda. O consumo das famílias é o principal motor da economia”, disse Dowbor, contrariando o conceito defendido pelo ministro da Fazenda, que afirma que o motor deve ser o capital privado.
Agência Senado
Dowbor criticou projeto de arcabouço fiscal apresentado pelo ministro Fernando Haddad
A ideia de que o Brasil seria um país pobre também foi questionada pelo economista durante a entrevista. “Se você pegar o PIB do Brasil, dez trilhões, divide pela população, 215 milhões, isso dá 15 mil reais por mês por família de quatro pessoas. Um país com esses números ter 125 milhões de pessoas sob risco de insegurança alimentar, 33 milhões passando fome, isso é um problema de organização política e social”.
Dowbor também criticou a atual autonomia do Banco Central. “Eles chamam de ‘autonomia’ o modelo de colocar o Banco Central nas mãos do sistema financeiro. O que eu acho simpático. Você sabe que nos bancos não existem departamentos de evasão fiscal, eles chamam de ‘Departamentos de Otimização Fiscal’”, ironizou.
Mas não houve só ironias. No final da entrevista, o economista deu vasão à sua indignação sobre o comportamento do Banco Central e seu presidente, Roberto Campos Neto, no conflito com o Governo Lula pela atual taxa de juros, considerada muito elevada.
“O Brasil não tem inflação de demanda e nenhum outro motivo para manter a atual taxa de juros elevada do jeito que está. Eles (mercado financeiro e Campos Neto) sabem disso. Em um país que produz 4 quilos de alimentos por pessoa por dia, e tem milhões de pessoas passando fome. Temos que recolocar a ética na economia”, reclamou Dowbor.