No programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta segunda-feira (21/03), o jornalista Breno Altman entrevistou o cientista político e presidente do Instituto Cultiva, Rudá Ricci. Ele avaliou as estratégias petistas para o pleito que se acerca e a despolitização do eleitorado brasileiro em geral.
Segundo ele, o Partido dos Trabalhadores é a legenda mais relevante da política nacional dos últimos 40 anos, mas se institucionalizou em excesso, apostou em alianças muitas vezes espúrias e abandonou em parte o trabalho político.
“O que acontece é que as estruturas do PT estão fragilizadas, Lula manda e desmanda, então temos uma situação em que [Geraldo] Alckmin será o vice, o que contamina o voto, vai ter militante que vai começar a duvidar se deveria votar na chapa e isso não pode acontecer porque o projeto do PT e de Lula é maior do que essa aliança”, refletiu o cientista político.
Para Ricci, é preciso ter cuidado com o “institucionalismo”, que, ao parecer, é a aposta do ex-presidente, na visão de Ricci, para conseguir governabilidade.
“Só que eu acredito na organização da sociedade civil, acredito que precisamos construir hegemonia política e conseguir ser poder sem ser governo. Só que o institucionalismo atrasou a esquerda e Lula, porque ele vem construindo a frase quase que ao contrário, que é possível ser governo sem ser poder sendo que a ideia é conquistar corações e mentes para ter um poder popular tão forte que mesmo tendo um governo de direita, eles não conseguem andar com muita facilidade”, ponderou.
Nessa linha, Ricci argumentou que Lula deveria dedicar mais tempo às organizações populares, não excluí-las do programa ou da campanha, “porque elas vão acabar votando nele, mas vão dar trabalho”. Por outro lado, ele reconheceu que o PT está cumprindo, “ainda que de maneira tímida”, a obrigação política de construir projetos políticos, fazer articulações nacionais, lançar candidaturas parlamentares, “que serão alavancadas com a candidatura de Lula”, e ter peso nos governos estaduais.
Ele reforçou a importância de garantir a governabilidade de Lula entre as massas, “mas mesmo assim teremos que equacionar essa possibilidade, porque pressão popular ao Parlamento tem limite, gera uma reação da direita, temos que pensar uma forma de governo com participação popular real”.
Eleitorado despolitizado
Apesar dessa argumentação, Ricci não negou a importância de eleger deputados e deputadas não apenas para garantir governabilidade, mas legitimidade para um futuro governo de esquerda. Assim, ele analisou as formas de alcançar esse objetivo a partir do comportamento do eleitorado brasileiro.
Facebook/Rudá Guedes Ricci
Segundo Ricci, o PT é a legenda mais relevante da política nacional dos últimos 40 anos
“O eleitor se lembra muito do prefeito, do vereador que passa na rua dele pedindo voto (principalmente no interior), do governador e do presidente. Ele não consegue se lembrar do deputado estadual nem federal, porque não sabe o que essas pessoas vão fazer por ele. Acabam decidindo no último momento, no candidato que está forte para não ‘jogar o voto fora’. Isso é um erro nosso que não conseguimos comunicar a importância do cargo”, criticou.
De acordo com o cientista político, o voto uninominal ajuda na despolitização, pois são centenas de candidatos e é necessário lembrar seus nomes. Para ele, um sistema de eleições em lista “seria o ideal, porque aí todo o mundo estaria preocupado em saber de partidos e programas, que não é a preocupação de agora. Agora só se quer saber o que o cara vai fazer por mim”.
O voto vinculado seria outra boa opção para combater a despolitização, segundo ele, mas não no atual momento, pois seria visto como uma imposição dos partidos.
“Temos uma discussão maluca sobre liberdade. Não temos uma cultura política, que poderíamos ter desenvolvido, de que no mundo moderno eu nunca vou ter uma liberdade total porque vivo em comunidade. No Brasil há uma visão ingênua de que a liberdade individual é a base da democracia e não é. Assim, sem debater o que é partido, como se vota em uma pessoa para uma cidade, para um país, enquanto a gente não sair da lógica individualista e clientelista, adotar o voto vinculado só vai gerar raiva nas pessoas”, discorreu.
Há, porém, medidas que já podem ir sendo adotadas para contribuir para a repolitização da população. Ricci destacou a federação como sendo uma delas, pois fortalece os programas. Ele também citou proibir mais de uma reeleição para parlamentares e acabar como mecanismo do impeachment, adotando o sistema de referendo revogatório, que existe na Venezuela.