No programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta segunda-feira (26/07), o jornalista Breno Altman entrevistou a autora e ex-trabalhadora sexual Monique Prada sobre prostituição, um trabalho “como qualquer outro” para ela.
Prada contou que começou no ramo aos 19 anos: “Eu tinha um filho, cobrava um salário mínimo e vi um anúncio no jornal que me oferecia um salário e meio por dia”. Ela eventualmente deixou a prostituição, mas retornou aos 36 anos, já casada, devido à dificuldades financeiras.
“Os problemas financeiros eram muito graves e o jeito mais rápido de levantar o dinheiro era esse. Parei de exercer no começo da pandemia porque achei que era muito arriscado e continua sendo muito arriscado. Não tive paciência para o trabalho virtual”, revelou.
Entre um momento e o outro, Prada passou a estudar o movimento feminista e pensar como se encaixava nele sendo trabalhadora sexual.
“Percebi que não tem como o movimento das trabalhadoras sexuais não ser feminista, porque mais de 90% das travestis e mulheres trans, por exemplo, vão para a prostituição porque falta espaço no mercado de trabalho. Porque as prostitutas rompem com o patriarcado ao colocar preço em um serviço que é considerado a ser tomado de graça. Porque entre matrimônio e igreja, escolheram a prostituição”, discorreu a autora, citando a filósofa Silvia Federici.
Abolicionismo e o modelo sueco
“Considero a abolição uma utopia válida, mas que não é viável, principalmente em momentos como o atual, de ruptura dos direitos trabalhistas, desemprego e recessão”, defendeu Prada.
Para ela, buscar cessar com a prostituição acabando com a demanda ou por meio de leis só servem para marginalizar mais ainda as mulheres que trabalham no ramo, “e parece que esquerda e direita se unem ao redor dessa ideia”. Segundo a autora, a única forma de acabar com o serviço “é criando opções para que as mulheres não tenham que recorrer a ele”.
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Ex-trabalhadora sexual critica vertentes do feminismo que lutam pela abolição da prostituição
Ela relembrou que a maioria das mulheres trabalhadoras sexuais chegam e permanecem no setor por motivos financeiros. Prada trabalhou, por exemplo, como motorista de aplicativo e afirmou que entre ser motorista e trabalhadora sexual, preferia a segunda opção, em que se sentia menos explorada.
“São opções laborais, mas nem toda opção no mundo capitalista é livre. Acho que ninguém escolhe trabalhar 300 horas no McDonalds ou limpar privadas em universidades, ou outros empregos que eu considero muito mais violentos. A gente só discute a opção da prostituição porque envolve sexo”, criticou.
Por isso, Prada acredita que existe um componente de moralismo nos argumentos abolicionistas: “Esse é o único trabalho de mulheres a ser combatido? A gente pode pensar em questões de objetificação, o que é importante, mas eu não considero o sexo uma coisa violenta em si. Quando você coloca a prostituição como um estupro pago, você inviabiliza as denúncias de estupro reais, por exemplo”.
Ela avaliou experiências como o modelo sueco. A Suécia, buscando acabar com a prostituição sem prejudicar as mulheres, passou a criminalizar os consumidores do serviços. No entanto, na prática, a medida apenas serviu para marginalizar ainda mais as trabalhadoras sexuais.
“Para criminalizar os clientes, você tem que vigiar as mulheres. E aí as prostitutas viram párias, porque paira sempre a suspeita de que elas possam ser trabalhadoras sexuais. Acabam tendo dificuldade de alugar apartamentos, porque ninguém quer alugar para uma prostituta, correm o risco de perder a guarda dos filhos, enfim”, ponderou.
Para ela, a esquerda que defende o modelo sueco deveria militar ao lado dos fundamentalistas religiosos, pois, na prática, defendem medidas que excluem da mesma forma as trabalhadoras sexuais.
“Enquanto a gente sacralizar o sexo, as mulheres não vão conseguir evoluir. As nossas escolhas dependem da nossa situação financeira”, reforçou.