Nesta quarta-feira (05/04), o programa 20 MINUTOS recebeu como convidada a engenheira civil e cientista política Florence Poznanski, formada pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris (Science Po) e dirigente do Partido de Esquerda da França.
Segundo a acadêmica e política, “as mobilizações na França estão mostrando um clima de bastante insatisfação contra o governo” do presidente Emmanuel Macron, especialmente depois da sua decisão de impor a reforma da previdência sem passar pelo parlamento, através de uma manobra constitucional.
“Ainda não houve uma greve geral, mas temos um cenário de mobilização permanente de diversos setores durante um longo tempo, alguns que estão protestanto há semanas, e em algumas jornadas chegamos a ter mais de um milhão, quase um milhão e meio de pessoas nas ruas”, conta Poznanski.
A acadêmica também afirma que a base social dos protestos está mais ligada aos partidos de esquerda, porém “a extrema-direita tenta se aproveitar de forma bastante oportunista”, em referência ao setor político liderado pela ultranacionalista Marine Le Pen.
“Houve manifestações em que membros do partido de Le Pen foram expulsos, mas como eles têm uma importante representação no Legislativo, conseguem se aproveitar da comoção social de alguma forma”, afirma.
Poznanski acredita que “a extrema-direita pode se beneficiar dos protestos de alguma forma, já que estão se posicionando como oposição, mas as esquerdas estão experimentando um novo cenário de unidade em torno do objetivo comum de tentar barrar a reforma e apoiar os movimentos sindicais durante os protestos”.
Sobre a possibilidade de que os protestos na França levem à destituição do presidente Macron, a cientista política acredita que “é difícil, porque o governo tem preparado muito as forças de segurança e incrementado à repressão aos manifestantes, tentando evitar que elas escalem como em 2019, quando os ‘coletes amarelos’ chegaram a invadir um ministério”.
“Estamos agora em um momento decisivo para saber até onde a radicalização do movimento pode evoluir, ou se dentro de algumas semanas a poeira vai baixar e as pessoas voltarão para suas casas”, analisou Poznanski.