O programa 20 MINUTOS desta quinta-feira (24/08) entrevistou o psicanalista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Tales Ab’Sáber.
A conversa tratou de trazer um novo ponto de vista para a polêmica gerada pelo livro “Que Bobagem”, de Natália Pasternak, na qual a autora diz considerar a psicanálise – assim como a homeopatia, a acupuntura e outras disciplinas – como uma “pseudociência”.
Segundo Tales, “ciência é uma ordenação de faculdades racionais, lógicas e humanas, para uma aproximação racional e lógica de um fato natural, ou histórico, ou simbólico. Isso significa que a natureza desses fatos altera a natureza do método. A racionalidade para uma coisa morta, objetiva e que pode ser mensurada não é a mesma racionalidade para uma coisa viva, produtiva, sensível; como, por exemplo, o psiquismo humano”.
“A problemática teórica e epistemológica da psicanálise sempre existiu. Desde a sua origem, a psicanálise está observando um tipo de fenômeno que exatamente escapava na inscrição nas ciências duras biológicas, na fisiologia, na bioquímica do seu tempo”, acrescentou o professor.
Perguntado sobre se há uma contradição no discurso de negação da ciência adotado pelo neofascismo no Brasil e a abundante oferta de produtos gerados através da ciência, Tales disse que “muitas dessas conversas são posições estratégicas de choque em determinados momentos”.
“Essa questão coloca outro problema na construção do neofascismo, que o problema do Adorno e do Horkheimer, que diziam lá nos Anos 40 que não era o possível explicar o nazismo sem a psicanálise, porque eles consideram a psicanálise como ciência, e que o fenômeno do nazismo, a submissão regressiva e subjetiva a um líder patético, grosseiro, com três ou quatro ideias grosseiras e violentas na cabeça, como lembrou Adorno, foi tratado por Freud, isso foi objeto de reflexão daquilo que era uma psicologia científica chamada psicanálise, e que é extremamente complexa”, comentou o psicanalista.