O programa 20 MINUTOS desta sexta-feira (14/04) entrevistou a historiadora Joana Salém, uma das organizadoras [junto com Maíra Tavares Mendes e Daniela Mussi] do livro “Paulo Freire e a Educação Popular – Esperançar em Tempos de Barbárie”, lançado pela editora Elefante.
Formada em História pela Universidade de São Paulo (USP), mestra em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e doutora em História Econômica pela USP, Joana trabalhou nos cursos da Universidade Emancipa, movimento social integrado à Rede Emancipa de Educação Popular, que promoveu junto com a Universidade Federal do ABC o curso 100 anos de Paulo Freire, de onde surgiu a coletânea de 32 capítulos [o livro mencionado no parágrafo anterior].
Segundo a historiadora, “a educação popular é identificada com o método do Paulo Freire porque esse método tem como principal objetivo que todos os educadores e educandos se entendam como sujeitos políticos”.
“Em geral, os educadores costumam se entender como tal, mas os educandos, em determinados contextos, não se entendem como tal, geralmente são trabalhadores que enfrentam condições impostas, que são objetificados pela sociedade de alguma forma, e que, dentro de um processo de educação popular, têm um estalo e passam a se auto enxergar como sujeitos”, acrescentou.
Arquivo Pessoal
Para Joana Salém, Paulo Freire defendeu uma educação em que educadores e educandos se entendem como sujeitos políticos
Joana também frisou que existe também a antítese dos fundamentos de Paulo Freire. “Se existe uma educação popular e uma pedagogia do oprimido é porque também existe uma educação antipopular e uma pedagogia do opressor. É como as delegacias da mulher, se elas existem é porque todas as outras são delegacias dos homens. No caso da pedagogia, os opressores têm suas estratégias de convencimento subjetivo e formatação de pensamentos que são muito bem sucedidas”, comentou.
A historiadora também explicou o conceito de “educação bancária”, utilizado por Freire em sua obra para criticar a educação tradicional com um termo cunhado do linguajar popular.
“É a ideia de que o educador deposita o conhecimento [no educando] e depois saca ele na prova. Reproduzindo a ideia do ‘depósito’ e do ‘saque’, por isso seria uma educação ‘bancária’. É uma relação de troca desigual, uma troca instrumental, em que o professor deposita um monte de conhecimento em uma cabeça vazia e depois verifica se essa pessoa consegue devolver esse conhecimento igualzinho ao que ele falou. Essa é a lógica da educação bancária”, analisou Joana.