O programa 20 MINUTOS desta terça-feira (16/05) teve como convidada a cientista política Mónica Bruckmann, professora do Departamento de Ciências Políticas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que foi assessora da secretaria geral da União das Nações Sul-Americanas (Unasul).
O tema da entrevista foi a atual crise econômica na Argentina e suas possíveis consequências neste ano de 2023, quando o país realizará eleições para escolher o sucessor do atual presidente, o peronista Alberto Fernández.
Segundo Bruckmann, “a Argentina já entrou em uma hiperinflação, a inflação do último mês está perto de 9%, e o acumulado dos últimos 12 meses é de 104%. As previsões mais positivas no sentido de diminuir a inflação consideram que esse índice não baixará dos três dígitos até o final do ano”.
No entanto, a cientista política afirma que, diferente do que alega a oposição argentina, não foram as políticas de Fernández as principais responsáveis pela situação atual e sim o enorme endividamento do país com o Fundo Monetário Internacional (FMI), adquirido durante o governo anterior, do empresário neoliberal Mauricio Macri (2015-2019).
“Esse empréstimo foi dirigido a estabilizar a economia, mas acabou gerando a desestabilização dessa economia, ao financiar a fuga de dólares do país. Com uma fuga de dólares tão intensa como a que ocorreu na segunda metade de 2018, e em todo o ano de 2019, o que nós tivemos foi uma instabilidade instaurada. Para se ter um exemplo, o câmbio em junho de 2018, quando a Argentina tomou o empréstimo, era de 20 pesos argentinos por dólar norte-americano. Alguns meses depois, já em 2019, era de 60 pesos por dólar”, explicou a professora.
Bruckmann também considera que o Brasil pode ajudar a Argentina criando um fundo de financiamento para as exportações do país vizinho, gerido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), além de intermediar possíveis ajudas financeiras através dos Brics [aliança que reúne, Rússia, Índia China e África do Sul, além do próprio Brasil].
Sobre a possibilidade de a atual crise na Argentina abrir espaço para um crescimento da extrema direita no país, em pleno ano de eleições presidenciais, a cientista política alertou para o fato de que “alguns dias atrás, algumas pesquisas de opinião mostram um crescimento muito grande do Milei [em referência a Javier Milei, líder da extrema direita argentina]”.
“Porém, a experiência que tivemos no Século XXI mostra que esse setor não é capaz de lidar com crises desse tipo, não sabe como equilibrar as contas públicas nem criar instrumentos de crescimento econômico. Então, essa extrema direita pode até ganhar uma eleição, mas não vai resolver a crise”, acrescentou Bruckmann.