O programa 20 MINUTOS desta terça-feira (21/03) teve como convidado o deputado estadual gaúcho Matheus Gomes (PSOL-RS), que ficou conhecido em seu estado durante as manifestações de 2013 em Porto Alegre, quando era militava no movimento estudantil e ganhou o apelido de “o Guri dos Protestos”, e conseguiu nos últimos dez anos se alçar como uma das grandes lideranças da esquerda gaúcha e da causa antirracista em todo o Brasil.
Por ser uma figura que surgiu das chamadas “Jornadas de Junho”, uma das primeiras perguntas do anfitrião, o jornalista Breno Altman, foi sobre como Gomes as vê uma década depois.
Segundo o agora deputado, à época líder estudantil, “as jornadas de junho não devem ser incluídas no mesmo bojo das chamadas ‘revoluções coloridas’ [como instrumentos de instalação de pautas de direita e extrema-direita, como opinam alguns analistas], porque o início daquelas mobilizações foi baseado em princípios que a esquerda brasileira construiu ao longo dos últimos anos”.
“A linha de frente daquelas manifestações era formada pelo MPL [Movimento Passe Livre], movimento estudantil, MTST, sindicato dos metroviários… Ou seja, em um primeiro momento tivemos uma composição social formada por trabalhadores, estudantes, organizações de esquerda, com outro projeto político, que não tem como ser comparado com o conceito das guerras híbridas”, acrescentou.
Ainda sobre as Jornadas de Junho, Gomes disse acreditar que elas foram o estopim de uma maior mobilização em defesa das pautas do movimento feminista e também da luta antirrascista no Brasil.
Twitter / Matheus Gomes
Segundo Matheus Gomes, Jornadas de Junho de 2013 não podem ser comparadas às chamadas ‘revoluções coloridas’
“Eu, por exemplo, me considero fruto de uma tendência que observamos principalmente a partir da segunda década do Século XXI, que foi a criação de coletivos de estudantes negros, que chegaram a realizar o seu primeiro grande encontro nacional em 2015, com representantes de todo o país”, relatou o parlamentar.
O entrevistado também se referiu à polêmica do novo livro do sociólogo Muniz Sodré [“O Fascismo da Cor”, Editora Vozes], que defende a tese de que o racismo brasileiro não seria um racismo estrutural.
“Numa sociedade como a brasileira, originada a partir de um processo de colonização e escravidão, o racismo é um elemento que está na estrutura dessa sociedade e também na superestrutura dessa sociedade. Nós temos uma formação sócio-econômica originada através da escravidão, tanto que mesmo depois da abolição a inclusão de negras e negros na nossa sociedade foi em setores totalmente subalternos”, comentou Gomes.
O deputado disse considerar que o mito da democracia racial propagado pelas elites brasileiras “foi um dos instrumentos ideológicos mais potentes de todo o Século XX, porque ele impediu que houvesse rebeliões sociais no nosso país como houve no Caribe, nos Estados Unidos e no continente africano, onde nós vimos movimentos de negras e negros reivindicando não somente a ascensão social mas também autonomia política”.
Para Gomes, “neste momento há um curto circuito do mito da democracia racial no Brasil, essa ideia não consegue mais ser sustentada como antes, e se observamos o papel do Bolsonaro nesse caso, ele tentou reavivar o mito da democracia racial, quando ele dizia ‘Brasil acima de tudo’ era também acima da raça”.