A convidada do jornalista e fundador de Opera Mundi, Breno Altman, para o 20 MINUTOS desta quinta-feira (29/06) é a pesquisadora internacional Rose Martins.
Durante a entrevista, conversaram sobre as últimas atualizações da guerra na Ucrânia, em especial como o motim do grupo mercenário Wagner, nos dias 23 e 24 de junho, afeta o conflito.
Questionada por Altman sobre a duração da guerra, a especialista em geopolítica e política externa da Rússia afirma que um embate curto, de poucas semanas pode ter sido “a aposta de Moscou e dos analistas, inclusive foi a minha e erramos nisso”.
“Partimos de um retrospecto de outras atuações militares da Rússia depois da chegada de Putin ao poder, como na Georgia, em 2008, e a campanha na Síria [em 2015]. A aposta da Rússia era de que os Estados Unidos, enfrentando dificuldades internas e internacionais, passando por uma espécie de crise de liderança, não iam atuar em ajuda de forma tão forte com a Otan pela Ucrânia. Acreditaram que a Ucrânia estaria sozinha na guerra, embora fosse claro a atuação de forças internacionais no território”, declara a especialista sobre o conflito que passa de seus 16 meses de duração e não tem perspectiva de resolução no curto ou médio prazo.
Instagram/Rose Martins
Pesquisadora internacional Rose Martins é entrevistada de Breno Altman no 20 MINUTOS desta quinta-feira (29/06)
Especificamente falando sobre a atuação do Grupo Wagner na guerra da Ucrânia, Martins comenta que a utilização de grupos militares privados não é uma exceção russa, mencionando que os Estados Unidos também utilizaram dessa estratégia para intervenções no Afeganistão.
“A atuação desses grupos normalmente é em territórios mais longínquos [em relação ao pais contratante]. O Wagner tem histórico de atuação na África, na Síria e até registros na Venezuela. É difícil fazer um itinerário e saber exatamente onde esses grupos atuam”, afirma.
Sobre a necessidade dessa contratação, a entrevistada afirma que é relacionada ao custo política de uma guerra. “A guerra em territórios que não representam frontalmente interesse nacional envolvem custo político. A Rússia usa desses grupos para não criar desgaste político internamente, mas ter atuação militar em territórios que julga serem estratégicos”, completa.
Na análise de Martins, a crise com p grupo Wagner revela mais erros estratégicos da Rússia do que questões de ordem interna do país.
“Colocar um grupo mercenário, que atua sobre a lógica de uma empresa privada, em uma guerra nas fronteiras da Rússia, que tem tamanha repercussão, que notadamente tem um inimigo muito forte, que existe uma aliança militar empenhada na derrota de seu país, foi uma decisão muito arriscada e que podia dar problema a qualquer momento, como deu”, explica.
Segundo Martins, a guerra da Ucrânia não é como a guerra da Síria em que a Rússia tinha interesses, mas sim um conflito que envolve completamente o Estado Russo e a identidade do país.