Autor de diversas obras sobre a questão nacional e o tema da defesa, o historiador Manuel Domingos Neto esteve no programa 20 MINUTOS desta sexta-feira (02/12) debatendo as formas que o terceiro governo Lula deve ter para lidar com os militares.
Como um dos organizadores do livro Comentários a um delírio militarista, ao jornalista Breno Altman, Neto falou sobre a origem do papel tutelar das Forças Armadas, o golpe de 1964 e a volta dos militares no governo Bolsonaro.
De acordo com o especialista, foram os militares que “produziram, transformaram e elegeram” atual presidente do Brasil Jair Bolsonaro. Para o especialista, foram eles que deram ao ultradireitidista o “mínimo e credibilidade para ele se lançar nessa aventura”.

“É claro que o Bolsonaro é fruto de uma articulação militar. Isso me foi explicado com toda a clareza por um almirante da Marinha, que não embarcou nessa. Um homem com muita experiência como liberal, respeitado, que verificou se tratar [o projeto Bolsonaro] de uma ‘doidice’. Ele não falou esse termo, claro, mas o [almirante Mário] César Flores foi convidado para reuniões do almirantado no sentido de amparar essa aventura”, contou o analista.
Domingos Neto faz uma ressalva sobre a ideia de que as Forças Armadas sempre tutelaram o poder no Brasil, desde a proclamação da Independência, passando pela Proclamação da República e outros golpes de Estado e revoltas sociais realizados no Brasil.
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O historiador Manuel Domingos Neto
Segundo o historiador, foi no período entre guerras mundiais, mais especificamente entre os anos 20 e 30 do século XX, que esse poder de tutela dos militares se consolidou.
“É somente a partir de 1928, com a nomeação do general Nestor Passos como comandante, como ministro da Guerra, que essa nova geração moderna (do Exército brasileiro) chega ao comando militar, e é só a partir daí que elas (as Forças Armadas) têm poder suficiente para patrocinar 1930, para derrotar os paulistas, para instaurar o Estado Novo, e daí por diante”, explica o analista.
Sobre a questão principal do programa, a forma como Luiz Inácio Lula da Silva deve lidar com os militares em seu terceiro mandato presidencial, Domingos Neto começou lembrando que é a “estrita obediência” como eles devem atual diante do poder civil.
“Se o poder político não consegue comandar o poder militar, aí o poder militar passa a comandar o poder político, essa é uma experiência universal, mas não se trata do caso brasileiro”, alerta o especialista.
Domingos Neto faz recomendações a Lula sobre a forma com que ele poderia impor sua autoridade sobre as Forças Armadas em seu novo governo: “o que o chefe de Estado precisa é comandar as Forças Armadas, ou seja, atribuir missões, designar tarefas, propiciar meios, estabelecer prazos, cobrar. Isso é que é [estabelecer o] comando”.