O projeto educativo do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) começa com a luta prática pela terra e pela reforma agrária e se estende aos bancos escolares, desde o ensino infantil e básico até a universidade, segundo a pedagoga Rosana Fernandes, coordenadora-geral da Escola Nacional Florestan Fernandes, mantida pela entidade em Guararema, São Paulo.
“A luta é a principal formadora direta de militantes do MST”, afirmou a dirigente ao jornalista Breno Altman, no programa 20 MINUTOS desta quinta-feira (13/10).
Contabilizando cerca de 1.800 escolas de educação básica localizadas em terrenos camponeses no território nacional, a dirigente estima em 10 mil o número de educadores sob coordenação do MST em territórios de assentamentos e acampamentos nas cinco regiões do Brasil.
O próprio movimento construiu e mantém instituições de ensino técnico, como a Escola Florestan Fernandes, o Instituto de Educação Josué de Castro, no Rio Grande do Sul, e a Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto, na Bahia.
As escolas técnicas do MST estabelecem parcerias com universidades públicas e trabalham com educadores voluntários, dos quais cerca de 500 atuam permanentemente junto à Escola Florestan Fernandes. Desde 1998, o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) vinha colaborando para a chegada de jovens sem terra ao ensino superior.
De acordo com Fernandes, em 2022 o governo de Jair Bolsonaro destinou R$ 20 mil para o Pronera, o que na prática corresponde à extinção do programa.
“Tivemos avanços bastante grandiosos no período anterior, e o avanço na escolarização de nossos militantes dirigentes tem a ver diretamente com políticas de Estado que foram tomadas. Sobre o último período, temos muitas lamentações a fazer”, disse.
MST/Acervo ENFF
Dirigente nacional do MST, Rosana Fernandes, é convidada de Breno Altman no 20 MINUTOS desta quinta-feira (13/10)
Beneficiária dessas políticas públicas, a mato-grossense Fernandes formou-se pedagoga pelo Pronera, mestre em geografia na Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) e faz doutorado na Universidade de Campinas (Unicamp).
A dirigente explica que o MST desenvolve um projeto de natureza político-pedagógica voltado para o sujeito sem terra, e não apenas para ele: “é preciso manter um atendimento permanente à demandas específicas do povo que está para além dos assentamentos de reforma agrária. Também falamos das comunidades quilombolas, dos ribeirinhos, dos povos da floresta, de uma diversidade de sujeitos do campo brasileiro”.
Questionada por Altman se a formação político-ideológica é obrigatória no MST, Fernandes responde que nada é obrigatório e que a livre escolha é respeitada na instituição, mas indica que essa formação é essencial para fortalecer a luta pela terra, pela reforma agrária e pela transformação social: “Isso não vai acontecer sem a elevação do nível de consciência dos militantes. As organizações populares não avançarão se não priorizarem a formação político-ideológica de quem está nessa luta”.
Ainda que a escola nacional represente o nível de maior aprofundamento, o sistema educativo proposto pelo MST não se pauta por hierarquias, e Fernandes destaca a importância do aprendizado adquirido fora dos bancos escolares.
“O primeiro momento de formação no MST é a participação efetiva no movimento. Ir para uma ocupação de latifúndio ou para uma marcha nacional é uma grande escola de formação”, afirmou.