No programa 20 MINUTOS INTERNACIONAL desta quinta-feira (12/05), o fundador de Opera Mundi, Breno Altman, entrevistou Pedro Paulo Rezende, editor do site Arsenal sobre a guerra na Ucrânia.
“Ao contrário do que mostra a mídia Ocidental, a Rússia está ganhando a guerra. Mas na guerra midiática, parece que é a Ucrânia”, começou frisando o especialista. Ele elogiou a ofensiva russa do ponto de vista militar.
Segundo o jornalista especialista em defesa, alta tecnologia e relações internacionais, Moscou “está fazendo uma guerra no seu estilo, não no estilo norte-americano de bombardeios e destruição massiva, a Rússia está se contendo”.
Com quase 90 dias de conflito, foram registradas cerca de duas mil mortes de civis, “o que é horroroso do ponto de vista humano, mas em termos de conflito, é muito pouco, há uma preocupação séria por perdas civis”.
O problema, porém, é que “o objetivo de Washington não é terminar a guerra”: “os EUA queriam a guerra, era interessante para eles esvair a Rússia, testar novos equipamentos, movimentar sua indústria militar”.
Por isso, Rezende avaliou que as negociações foram paralisadas por causa da promessa do Ocidente de continuar fornecendo armas à Ucrânia, o que estimula o país a seguir no conflito, mesmo que “esse equipamento não chegue à linha de frente porque é neutralizado por Moscou antes”.
Como resultado, o mundo está vendo a quebra da hegemonia militar dos EUA, de acordo com o especialista, reestabelecendo a situação da Guerra Fria com dois blocos com equivalência militar e inclusive fortalecendo a Rússia.
“Putin não se verá desestabilizado nem por um possível prolongamento da guerra e das sanções. A população geral está vivendo uma vida normal porque está ocorrendo um processo de substituição das importações. Na verdade é a Europa quem mais está sentindo os efeitos das sanções, não a Rússia”, destacou.
Estratégia russa
Para além de avaliar o conflito do ponto de vista geopolítico, Rezende refletiu sobre a estratégia militar russa. Apesar de reconhecer a superioridade de Moscou, apontou para alguns equívocos que foram cometidos.
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Para Rezende, Moscou está fazendo uma ‘guerra no seu estilo’
Por exemplo, o especialista afirmou que a Rússia subestimou as forças militares da Ucrânia que, desde 2014, vêm sendo armadas e treinadas pelo Ocidente, “isso só não fez tanta diferença porque os objetivos de Putin eram menos exigentes, ele começou sua operação já com um número insuficiente de tropas. O ponto grave que a Rússia não avaliou bem foi a penetração das ideias neonazistas nas Forças Armadas e no exército regular ucraniano”.
Rezende também ponderou que o excesso de preocupação por perdas civis pode estar alongando o conflito, já que as forças russas poderiam ter se centrado em Kiev e eliminado a liderança ucraniana.
“Levantar o cerco a Kiev foi um erro diplomático. Foi uma concessão que fizeram à Ucrânia, de levantar o cerco para retomar as discussões de paz, mas não deveriam tê-lo feito porque estavam segurando ali as tropas ucranianas. Mesmo assim, ainda controlam o leste, o sudeste e o sul do país”, enfatizou.
Já que Kiev foi “perdida”, como defendeu o especialista, ele explicou que a estratégia de Putin a partir de agora não deve ser retomar a capital. Até porque, ele precisaria de mais tropas e, se o fizesse, não conseguiria preservar a estrutura civil ucraniana — “enquanto os próprios ucranianos a estão destruindo” —, como vem tentando. “Aliás, vale lembrar que essa guerra começou em 2014 e a Rússia já poderia ter intervindo, mas não o fez”, lembrou.
Para ele, Moscou deve se centrar em dois pontos: o primeiro, dominar Kramatorsk e Kharkiv, na região nordeste da Ucrânia, onde se encontram os maiores arsenais da época da URSS no país. O segundo, dominar a região de Odessa, “onde há uma maioria pró-russa e as tropas seriam muito bem-vindas”, para cortar totalmente o acesso da Ucrânia ao Mar Negro.
“Não precisam mais se concentrar em Kiev, apenas eliminar as tropas e controlar essa ‘ferradura’. Mesmo porque a Rússia mostrou que tem uma boa fonte de informações dentro da Ucrânia, com ataques de precisão, poderia estar atacando a administração ucraniana, mas não o está fazendo. Não é mais o objetivo”, concluiu.