O advogado e político petista Tarso Genro defendeu que Luiz Inácio Lula da Silva deve manter a coesão da frente ampla formada eleitoralmente para governar o Brasil, em entrevista a Breno Altman, no programa 20 MINUTOS desta sexta-feira (04/11).
“Não sei se podemos, mas devemos manter a frente ampla”, afirmou o ex-ministro da Justiça do agora presidente eleito, elegendo três prioridades capazes de unificar as diferentes forças abrigadas na coalizão em objetivos comuns: a reabertura das relações internacionais, o combate à fome e a reorganização do sistema de segurança pública em nível federal.
O combate frontal à fome será vital para garantir credibilidade do governo junto à sociedade, com reflexos na correlação de forças com o Congresso Federal.
Nas relações exteriores dilaceradas por Jair Bolsonaro, o ex-governador do Rio Grande do Sul apregoa que o país abra amplo relacionamento com todos os governos do mundo, sejam democráticos ou não, mas dando preferência aos dispostos a alterar os rumos da globalização.
“O Brasil deve se recolocar como grande player mundial e desenvolver, com a América ado Sul, uma negociação unificada com as grandes forças geopolíticas e econômicas do sistema do capital”, disse.
Genro justifica a escolha desses três pontos: “são os mais facilmente coesionáveis para manter um governo com relativa estabilidade, num mundo fragmentário, dividido, em guerra e assolado pelo fascismo organizado em uma grande internacional fascista”.
Para ele, Lula saberá combinar a negociação transparente com o Congresso Nacional em relação ao orçamento púbico e a força político-eleitoral que adquiriu nestas eleições.
O ex-ministro estende à sociedade a responsabilidade pelo êxito eleitoral de Lula: “vamos fazer uma homenagem ao magnífico povo brasileiro, que teve grandeza e capacidade de resistência, principalmente a partir das regiões mais espoliadas do país, de compreender o que estava em jogo. Isso é admirável, e tem que nos dar otimismo para fortalecer o governo”, sugere.
Marcos Oliveira/Agência Senado
‘Não sei se podemos, mas devemos manter a frente ampla’, afirmou o ex-ministro da Justiça do agora presidente eleito
Altman perguntou sobre o risco de uma repetição da contrarrevolução burguesa contra Dilma Rousseff, em 2016, no terceiro governo Lula. “Joe Biden, um presidente progressista para os padrões norte-americanos, enfrentou um golpe fascista no seu país. Uma fração do grande capital lá queria uma ditadura nazista, com supremacia branca. A face mais perversa que a contrarrevolução apresenta hoje é a ascensão do fascismo, que nós enfrentamos e vencemos”, afirmou.
Sociedade mobilizada
A tarefa crucial de manter a sociedade mobilizada e fortalecer o campo progressista cabe mais ao PT e à esquerda organizada que ao presidente da República, em sua opinião.
“Não é o que o Estado e Lula vão fazer com essa mobilização, mas o que os partidos do campo democrático popular recomendariam que ele fizesse. Essas recomendações eu não conheço, em nenhum partido, nem no meu partido”, lamenta.
Um esforço que Genro levanta como exemplo seria a formação de uma coalizão de partidos de esquerda em torno de reivindicações comuns, algo que Lula chegou a propor ao PT em seu mandato: “isso ocorreu em reunião formal, quando eu era ministro das Relações Institucionais. O PT não fez. Não sei por quê, se negou a fazer”.
Questionado por Altman sobre a aparente força de mobilização social da extrema direita em relação à esquerda, o ex-governador alertou para o poder econômico por trás da organização popular: “a direita tem mais meios, mais dinheiro e grandes think tanks internacionais de formação de opinião. A vontade de fascismo não existe sem financiamento, basta olhar o que foram as SS nazistas e os fasci di combattimento na Itália. São sempre instituições financiadas pela grande burguesia, pagas pelos velhos da Havan desses países”.
Genro sustenta que sem financiamento essas iniciativas não prosperam. “Ninguém fica na rua eternamente para defender seus valores. As pessoas cansam. Só respondem aos governos e partidos se eles lhes ofertam imediatamente uma vida melhor”.