No 20 MINUTOS ENTREVISTA com Breno Altman desta sexta-feira (20/05), o ator, dramaturgo e sociólogo Tin Urbinatti defendeu a necessidade da arte se manter em contato com a realidade.
“A barbárie se coloca como fonte quase inesgotável de crueldade, brutalidade, grosseria, que está bem presente neste momento da história brasileira”, afirmou o artista, lembrando o horror e apregoando o poder da arte em combatê-lo.
Com o Grupo Forja, movimento teatral que criou no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, em São Paulo, Urbinatti afirmou ter vivido um renascimento, lado a lado com os trabalhadores que aderiram ao projeto, como atores ou espectadores.
Pensão Liberdade, em criação colaborativa, foi um dos resultados de seu trabalho no sindicato – e a primeira vez que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva viu uma peça teatral. Um dos objetivos do Forja, lembrou o entrevistado, era trazer para o sindicato trabalhadores que tinham medo da luta política e seus familiares, atraindo-os assim para defender os seus direitos.
“Isso se chama trabalho de base: encontrar um jeito de dialogar com os trabalhadores mesmo quando a classe está com medo, cansada ou confusa”, observou Altman.
Os debates propostos pelas peças teatrais passaram a reverberar no chão da fábrica, segundo o encenador. Num período adverso para os trabalhadores, com demissões em massa nos anos 1980, o Forja encenou o tema da demissão, na peça Pesadelo. Em uma cena que Urbinatti reproduziu durante a entrevista, um operário demitido conversava desconsoladamente com uma das máquinas com as quais trabalhava.
Facebook/Tin Urbinatti
Ator, dramaturgo e sociólogo Tin Urbinatti é o entrevistado de Breno Altman no 20 MINUTOS ENTREVISTA desta sexta-feira (20/05)
Antes do Grupo Forja, em 1972, ele participou, do Teatro das Ciências Sociais (GTSC) da Universidade São Paulo (USP), que estreou com Doutor Getúlio, Sua Vida e Sua Glória (1968), de Dias Gomes, em março 1973.
Contrato de Riso (1975), uma criação da própria companhia, parodiava a quebra do monopólio da Petrobras sobre a exploração de petróleo, concedida pelo governo Ernesto Geisel. Satirizado na peça, o ditador a certa altura dizia: “qualquer coisa, a gente mobiliza as forças armadas e dá uma quartelada”.
No dia em que foi anunciada a morte do jornalista Vladimir Herzog, também sob tortura, causou alvoroço na plateia a cena em que o ator anunciava que as forças armadas haviam se desentendido em Brasília e o presidente Geisel fora assassinado. A cena era contrastada com a do suicídio de Vargas, mais uma vez presente no imaginário do grupo.
“Naquela tensão que estava premente no ar, espectadores vazaram, saíram correndo. Um amigo jornalista ligou para o Estadão para dar o furo”, divertiu-se. Essa e outras histórias ele conta no livro Teatro Sob Fogo Cruzado, da Alameda Editorial, que será lançado no dia 25 de maio.