No programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta segunda-feira (21/02), o jornalista Breno Altman entrevistou o historiador Jones Manoel, pré-candidato do Partido Comunista Brasileiro (PCB) ao governo de Pernambuco, sobre as estratégias de sua legenda para as eleições que se aproximam.
Manoel disse que, num eventual segundo turno contra o atual presidente, o partido apoiaria Lula. O historiador destacou essa informação, lembrando que em nenhum momento a legenda anunciou que seria oposição a um futuro governo petista.
“Existe um erro da esquerda de já dar Lula como vitorioso. É um erro tratar Bolsonaro como cachorro morto, e o PCB não vai abrir mão de ser um agente mobilizador da classe trabalhadora e da revogação das contrarreformas porque existe um perigo a médio longo prazo. Se não destruirmos o legado do neoliberalismo, pode surgir outro Bolsonaro no futuro. Por isso, vamos apresentar um programa que defende, por exemplo, um plebiscito popular para a revogação de todas as contrarreformas, levando a uma mobilização nacional”, discorreu.
Esse apoio ao PT, em certa medida condicionado, não significa, contudo, que Manoel seja antipetista, como ele fez questão de ressaltar. Segundo ele, “há muitas caricaturas em torno disso. Eu não chamo Lula de ladrão, de corrupto, de cachaceiro. Meu debate nunca foi moral, nunca reproduzi preconceitos de classe”.
Suas críticas a Lula, como ele explicou, são de cunho estratégico, como a conciliação de classes, e referentes a erros cometidos durante sua gestão, por exemplo no que diz respeito à segurança pública. “Até porque, antipetismo é uma perspectiva conservadora e reacionária que tenta repudiar Lula, sem ter argumentos sólidos, porque o PT tem suas origens na classe trabalhadora, na população”, finalizou.
O youtuber revelou que o PCB está, nacionalmente, em uma “aliança prática” com todos os grupos de esquerda do país contra Jair Bolsonaro, mas que possivelmente lançará uma candidatura própria. O partido já conta com uma pré-candidata e tem o objetivo de “levar o debate à esquerda” no primeiro turno.
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Historiador comunista e pré-candidato ao governo de Pernambuco diz não ser ‘antipetista’
“Acho que um debate radical à esquerda até ajuda na candidatura do Lula. Ser um agente politizador é a melhor ajuda que o PCB pode dar. Quanto mais a gente repudiar os debates neoliberais, fechando o espaço para discussões sobre mensalões e supostos escândalos, politizando-o em torno da fome, da economia, da educação, da saúde, que são temas em que ele nada melhor, mais isso o ajuda”, argumentou.
Pernambuco
Manoel também refletiu sobre sua pré-candidatura em Pernambuco. Como comunista, vencer uma eleição serviria como elemento politizador, de geração de debate e mobilização da classe trabalhadora. Além disso, permitiria a redistribuição de recursos para a população, ainda que com certas limitações.
“Pernambuco tem uma tradição de esquerda muito forte e carece do ponto de vista eleitoral de uma alternativa popular e revolucionária. Da última vez, fizemos uma aliança com o PSOL, mas agora vemos que precisamos lançar a nossa candidatura não só para difundir um programa socialista, mas para mostrar que ele é possível. Temos muita esperança”, afirmou.
O historiador ainda enfatizou que uma possível vitória sua ajudaria a governabilidade e candidatura de Lula, e que já existem eleitores declarando voto casado: “O eleitor petista tem memória, não vai votar no candidato do PSB. Vai buscar um projeto mais à esquerda e vão entender que, apesar das nossas discordâncias com o projeto de Lula, nós nunca apoiamos a Lava Jato, nem reforma trabalhista, o que ajuda a própria governabilidade dele”.
De acordo com Manoel, Lula terá nele, caso eleito, um aliado tático em interesses da classe trabalhadora. Pensando em uma eventual gestão do PCB em Pernambuco, ele disse que começaria anunciando uma auditoria nas áreas da saúde, do transporte e dos incentivos fiscais do Estado. Depois de “jogar luz no que está errado”, pretende chamar o povo para colher alternativas e opiniões que ajudem a formular suas propostas políticas, “o que também politiza, organiza e aumenta a temperatura das ruas”.
Claro, ele não descarta a formação de coalizões, já que sabe que dificilmente governaria com maioria, “mas a gente não aceita abrir mão do nosso programa”.
“Como diria Leonel Brizola, o problema não é quem está no caminhão, mas quem o dirige. Temos um programa socialista para Pernambuco então quem quiser apoiá-lo, pode vir e vamos conversar e dialogar. Eu converso com todo o mundo, menos fascista. O programa é a baliza”, reforçou.