Eles participaram de caças ao tesouro. Foram à Roma antiga, a Veneza e até para a Anatólia. Viveram aventuras no espaço e voltaram para os mares do Sul. Se você acha que somente grandes aventureiros seriam capazes disso tudo, acertou: estas são algumas das façanhas que somente Dig, Dag e Digedag poderiam realizar.
Os três foram personagens em 223 edições, entre 1955 e 1975, da revista em quadrinhos Mosaik (mosaico, em português), que circulou na Alemanha Oriental (RDA). Uma exposição permanente no Zeitgeschichtliches Forum (Fórum Contemporâneo) de Leipzig, cidade da antiga da RDA que fica a cerca de 200 km ao sul de Berlim, homenageia a revista e os “Digedags”.
Frequentemente, os três são comparados à série de quadrinhos francesa Asterix e Obelix. Porém, os Digedags surgiram quatro anos antes, em um país que ainda mantinha suas fronteiras relativamente abertas.
Os personagens criados por Johannes Hegenbarth (1925 – 2014), também conhecido como Hannes Hegen (o mesmo nome com algumas sílabas a menos), são diferentes e complementares entre si. Dig, o moreno, é o mais inteligente de todos e tem o poder da hipnotização. Dag, o loiro, é impulsivo, mas sempre disposto a ajudar. Digedag, por sua vez, tem cabelo vermelho, cabeça alongada e é o mais ousado dos três.
A exposição em Leipzig é bastante completa e dá um bom panorama do que foram a revista e os personagens durante sua existência na Alemanha Oriental. Alguns dos exemplares da época são considerados raridade hoje. Além das edições, a mostra ainda apresenta cerca de 150 desenhos, rascunhos e modelos dos arquivos do criador da série. É possível brincar com os personagens, entrar em uma “nave espacial” e conhecer, por dentro, o mundo dos três heróis.
Os arquivos que estão no Zeitgeschichtliches Forum foram doados pelo próprio Hegenbarth, mas nem todos estão disponíveis. Para ajudar na conservação, é feito um rodízio das revistas em exibição – ou seja, de tempos em tempos, é possível revisitar a mostra e encontrar exemplares novos.
A exposição, gratuita, atrai moradores locais, turistas e muitas escolas, que levam os alunos para conhecer a história dos heróis. No mesmo museu, ainda há uma exposição sobre a história da Alemanha Oriental, da Segunda Guerra Mundial até a dissolução do país.
Revista
A Mosaik sobreviveu à queda do Muro de Berlim, em 1989, e à Reunificação da Alemanha, em 1990, e é publicada até hoje. Durante a época em que era editada na Alemanha Oriental, não sofria a censura pela qual outros veículos de imprensa passavam. Ao mesmo tempo, figuras políticas não tinham espaço na revista. Isso quer dizer que, em toda a história da revista, não há referências a, por exemplo, heróis comunistas ou crianças que participavam dos grupos de instrução política (os “pioneiros”).
A revista não tratava, na época, somente de grandes conquistas ou aventuras: havia, também, muito conteúdo educacional que acabava sendo de grande auxílio em tarefas de casa. Cultura, ciência, natureza e tecnologia eram temas sempre presentes nas edições.
A Mosaik e os Digedags ficaram na memória cultural da Alemanha Oriental. À revista Museumsmagazin, publicada pelo órgão que administra parte dos museus históricos da Alemanha, o músico Tobias Künzel, da banda Die Prinzen, resumiu o que significava a publicação. “Era uma mistura incrível e inteligente de conhecimento e entretenimento. Era sempre entusiasmante”, disse.
Serviço
DDR-Comic “Mosaik”: Dig, Dag, Digedag
Zeitgeschichtliches Forum Leipzig
Grimmaische Straße 6 – Leipzig – Alemanha
Exposição permanente – Gratuito
* Com agendamento prévio, é possível fazer uma visita guiada em inglês
Stiftung Haus der Geschichte der Bundesrepublik Deutschland
Dig (dir.), Dag (centro) e Digedag (esq.) estão em exposição em Leipzig