As fortes inundações causadas pelas chuvas torrenciais do fenômeno El Niño mataram 101 pessoas e desalojaram mais de 1 milhão na Somália.
“Nosso país está em estado crítico e nosso povo foi afetado pelas enchentes em todos os lugares”, disse o presidente Hassan Sheikh Mohamud em um discurso. Ele alertou sobre a disseminação de doenças em uma população de cerca de 17 milhões de pessoas.
Em resposta ao desastre, o país africano declarou estado de emergência desde 12 de novembro. As inundações contínuas estão agravando a crise humanitária na região do Chifre da África, que já passou pela pior seca das últimas quatro décadas. Elas já mataram 120 pessoas no Quênia e 57 na Etiópia.
O fenômeno El Niño, que provoca o aumento das temperaturas, traz seca em algumas partes do mundo e chuvas fortes em outras, o fenômeno tem previsão para encerrar apenas em abril de 2024.
A Somália tem projeções negativas que apontam mau tempo nas próximas semanas e agravará ainda mais as dificuldades enfrentadas pelas vítimas, calcula-se que 1,5 milhões de hectares de terras agrícolas fiquem inundados até o fim de dezembro.
Unicef
Estima-se que mais de 100 pessoas morreram após o início das chuvas torrenciais que afetaram 2 milhões de somalis desde outubro
Milhares de pessoas perderam o acesso aos mercados e aos abastecimentos ou estão isoladas em aldeias. Infraestruturas como estradas, pontes e pistas de aterragem foram danificadas. Em algumas áreas, instalações como hospitais e escolas fecharam e o risco de cólera aumentou, especialmente ao longo das zonas ribeirinhas baixas de Shabelle e Juba, no sudoeste. As necessidades aumentam rapidamente à medida que as inundações se expandem por todo o país.
O comissário da Agência de Gestão de Desastres da Somália, Mahamud Moallim, disse que a prioridade é resgatar os desamparados e fornecer ajuda humanitária imediata às vítimas num momento em que milhares de famílias estão sitiadas.
Cerca de 1,5 milhões de crianças com menos de cinco anos poderão enfrentar subnutrição aguda até julho de 2024. A comunidade humanitária destaca que sem mais recursos não será possível atender as necessidades atuais e futuras de mais de 7,6 milhões de pessoas.
Somalis enfrentam uma situação bastante sombria em todos os setores da sociedade. A intervenção de interesses dos governos estrangeiros como os dos Estados Unidos e das elites somalis prevalecem sobre os dos cidadãos comuns. Infelizmente, parece que o governo de Joe Biden irá seguir os passos dos seus antecessores Barack Obama e Donald Trump.
Nas últimas três décadas, a Somália não teve um governo capaz de administrar o seu território nacional. A conturbada história moderna do país levou os analistas de política externa a descrevê-lo como o arquétipo de um “Estado falido”. Desde uma missão militar fracassada dos Estados Unidos na Somália, no início da década de 1990, o país tem aparecido com mais frequência na agenda de notícias ocidentais como um refúgio para ataques terroristas em países vizinhos ou como fonte de ataques piratas em rotas marítimas internacionais.
Grande parte desta cobertura dá aos espectadores a impressão de que os problemas da Somália são autogerados e que o resto do mundo tem tentado salvá-la. Na realidade, existe uma longa história de interferência externa nos assuntos somalis que agravou a sua longa crise. Desde a Guerra Fria até à “guerra ao terror”, os Estados Unidos têm usado a Somália como campo de batalha para os seus esquemas geopolíticos, com consequências profundamente destrutivas para os somalis, e portanto, não há investimento para soluções sustentáveis de preparo para catástrofes causadas por uma crise climática provocada que atinge desproporcionalmente países pobres, não há investimento em soluções duradouras resistentes às inundações e sistemas de alerta precoce essenciais na Somália.