Diário, o Queiroz é um grande chapa. A gente se conheceu no Exército, em 1984. Ele trabalhou no meu gabinete e no do Rachadinho, digo, Flavinho. Fizemos churrascos, fomos em jogos de futebol, pescamos juntos, ele ficou escondido na casa do meu advogado, essas coisas de amigão mesmo.
E ele é um cara muito eficiente. Tanto que matou mais de dez e nunca foi pego. Mas o Queiroz deu uma derrapada feia. Que pode prejudicar o Rachadinho, digo, o Flavinho.
É que, em 2011, ele botou 25 mil reais de uma só vez na conta da Fernanda, mulher do Rachadinho, digo, Flavinho. E aí teve que se identificar como depositador. A grana era para dar o sinal na compra de uma cobertura em Laranjeiras (quem é que não tem uma cobertura com 30 anos?).
Para afundar ainda mais na areia levadiça, na véspera do pagamento da segunda parcela, o Coronel Braga, chefe de gabinete do Rachadinho, digo, Flavinho, depositou mais 20 mil na conta da Fernanda e também se identificou.
Depois o Queiroz e o Braga aprenderam os macetes e passaram a fazer movimentações pequenas, dessas que a gente não precisa dar o nome. Por exemplo, nesse extrato que eu colei aqui em você, Diário, de setembro de 2016, o Rachadinho, digo, o Flavinho recebeu R$ 26 mil em depósitos de mil e dois mil reais. É assim que se faz, pô!
Mas os caras do Ministério Público perceberam o truque, foram atrás e viram que sempre tinha uns depósitos de mil e dois mil reais antes do pagamento das prestações da cobertura (custou 2,2 milhões na época, o que dá uns 3,6 milhões hoje, uma pechincha).
Se isso não é prova, não sei o que é. A nossa esperança agora são aquelas coisas que os advogados sabem fazer: empurrar com a barriga até o treco caducar, arranjar um erro jurídico ou um juiz desses que anula qualquer coisa, mesmo que tenha batom na cueca. Ou dinheiro.
Ah, Diário, não tá fácil…
O meu consolo é que arranjei um novo amigo: o Putin. Ele disse que eu tenho “qualidades masculinas”. Nem sei como agradecer. Mando flores? Bombons? Uma foto autografada? É…, acho que a foto é a melhor ideia.
Mas só de rosto ou de corpo inteiro?
(*) José Roberto Torero é escritor e jornalista, autor de livros como Papis et Circensis e O Chalaça. O Diário do Bolso é uma obra ficcional de caráter humorístico.
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